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A culpa por não sermos perfeitas

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Captura de Tela 2014-06-27 às 12.55.59Hoje, temos mais uma edição da coluna Psicologia, escrita pela psicóloga Raquel Suertegaray, que dessa vez o tema culpa, sentimento muito comum entre as novas ou mais experimentes mães. Espero que gostem da leitura. O texto está ótimo.

A culpa por não sermos perfeitas

Por Raquel Suertegaray

Olá mamães, na coluna de hoje, vou abordar um tema que habita a vida de todas nós quando nos tornamos mães e costuma roubar muitas das nossas noites de sono. Não, não estou falando de filhos que choram à noite, mas sim de pensamentos que nos assolam e transformam pequenos minutos de silêncio em verdadeiras sessões de análise. Estou falando daqueles momentos em que nos sentimos culpadas, tanto  pelo que fazemos quanto pelo que deixamos de fazer. Algo nada raro, não é mesmo?

A culpa materna é um fenômeno aparentemente universal e multifatorial, que se alimenta a cada nova fase da vida dos filhos, pois estas trazem sempre novos desafios e, a cada desafio que encontramos, a dúvida sobre estarmos ou não agindo certo nos persegue.

O acesso e o excesso de informações que temos na atualidade acaba exercendo efeitos contraditórios, pois ao mesmo tempo em que temos a possibilidade de fazer escolhas e tomar decisões amparadas em “conhecimento”, o que, a priori, nos colocaria em uma situação de vantagem, muitas vezes nos deixa mais perdidas ainda.

As teorias são tantas e tão distintas que podem, por vezes, aumentar o nível de angústia, pois plantam mais dúvidas do que trazem respostas e, com isso, a culpa vai sendo alimentada.

Percebo que, muitas de nós, assoladas pela culpa de não saber se estamos fazendo  o melhor ao tentar aplicar as teorias que encontramos em livros, nos enfraquecemos, pois perdemos o contato com nós mesmas e os parâmetros adotados na criação dos filhos se tornam voláteis. E, nesse ponto, não podemos jamais deixar de lembrar que nossos filhos necessitam, mais do que a perfeição de mães que não erram, da segurança de mães que os amparem, mesmo quando não sabem exatamente o que fazer.

E amparo não equivale a fazer tudo certo o tempo todo, nem estar presente em todos os momentos, tão pouco proteger os filhos do sofrimento. Amparo implica em apoio e não em satisfação total.  Aliás, este é um desejo traiçoeiro quando falamos de maternidade, já que tentar privar os filhos do sofrimento e da frustração faz com que eles não cresçam preparados para a vida, além de ser fermento para o sentimento de culpa, pois por mais perfeitas que sejamos, não somos capazes de isolar todas as variáveis e acabamos por falhar.

Um outro fenômeno da atualidade que está intimamente ligado com a culpa é a falsa ideia de que devemos oferecer tudo a nossos filhos. E tudo inclui todo o amor, toda a paciência, toda a sabedoria, todos os brinquedos, todo o conforto e tudo o mas que eles desejarem. Hoje, vejo circular a ideia de que filhos não podem chorar e que devem ser atendidos imediatamente (não, NÃO sou adepta do pensamento de que os bebês devem aprender na marra, sendo deixados chorando, mas sim de que deve haver um equilíbrio em tudo). Mas pensem comigo, isto é possível? Isto é necessário? Vejo que, por mais tempo que as mães dedicam aos filhos, para muitas delas, permanece a sensação de terem feito pouco e estarem devendo.

Mas por que isto? Precisamos entender que somos humanas, que não há necessidade de sermos perfeitas e, acima de tudo, que não existe perfeição. As “faltas” maternas que ocorrerão em decorrência de nossas imperfeições são necessárias aos nossos filhos e eles crescerão através disto. Não é à toa que, um dos mais renomados nomes dentro da psicologia infantil, Donald Winnicot, descreve as mães ideais como “suficientemente boas”.

Sugiro que pensemos se realmente precisamos de tantos livros, tantas teorias e tantos aprendizados técnicos. Pois este conhecimento todo, que, é bem verdade, nos ajuda em muitos momentos, também nos dificulta a vida ao causar uma falsa sensação de que não precisamos das outras pessoas, de que não podemos confiar no que nosso pediatra e nossas mães dizem e ensinam e de que devemos estar sempre um passo à frente.

Penso que o sentimento de culpa das mães (e dos pais) é um tema que deve ser mais explorado, pois ele acaba tornando a tarefa da maternidade/paternidade pesada e com parâmetros enfraquecidos. As crianças precisam de pais seguros de si, que, mesmo errando vez ou outra, tenham um norte em seus posicionamentos. A culpa que corrói as mães e muitos pais, muitas vezes, nem existe.

A mesma culpa por não oferecer aos filhos o tempo que eles merecem, empurra as mães (e pais) para jornadas de trabalho e de cuidados exagerados para oferecer-lhes “o melhor”, porém, “o melhor” é saber dosar.

Não quero com estas reflexões que terminemos esta leitura mais culpadas, então destaco que as crianças sobrevivem a nossos acertos e desacertos e sempre é tempo de repensar. Sejamos humanas sendo apenas suficientemente boas e nossos filhos serão mais felizes do que se tentarmos ser perfeitas.

Colunistas MdM Raquel - Psicologia

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