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Como iniciar uma conversa com meninas

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meninaHá muito tempo atrás, uma amiga me encaminhou um texto para eu ler e compartilhar no blog. Ela sabia que eu iria gostar e que seria bastante útil para várias outras pessoas (bom, isso, pelo menos, foi o que a gente pensou). Na época, eu estava super enrolada, com o Léo ainda bem novinho, e acabei não podendo fazer a tradução do texto para compartilhar aqui com vocês (ele havia sido publicado num blog gringo).Mas, há pouco tempo, me deparei de novo com esse texto que ela mandou, perdido no meio das minhas inspirações para próximos posts. Achei que era a hora de eu voltar a ele, tirar um tempo no meio dessa correria maluca que é o meu dia e me dedicar a traduzi-lo e dividi-lo aqui com vocês.O texto é de Lisa Bloom, autora do livro Straight Talk for Women to Stay Smart in a Dumbed-Down World (em uma tradução livre: “Pense: conversa direta para mulheres permanecerem espertas em um mundo emburrecido”) e traz sua opinião sobre o principal assunto que costumamos abordar ao puxar conversa com meninas: sua aparência.

Acho que gostei tanto desse texto porque nele a autora toca num ponto que sempre me incomodou antes de eu saber que o meu filhote seria um menino: como conduzir a questão da vaidade para ela não se tornar exagerada em nossas filhas (digo filhas porque os meninos não estão nem aí para isso, na grande parte dos casos). Sim, porque do jeito que estão as coisas hoje em dia, e do jeito que a mídia espalha a sua influência, meninas são bombardeadas com uma imposição desumana de beleza, vaidade e moda a todo instante.

E aí, quando eu soube que o que esperava um gurizinho, a dúvida de como conduzir essa delicada questão meio que sumiu da minha mente, pois bem sabemos que meninos não estão nem aí para essa coisa de beleza e vaidade e que  o negócio deles é muito mais ralar o joelho numa quadra de futebol. Só que assim que li esse texto, voltei a pensar no assunto, já que a influência da vaidade não diz respeito só às nossas filhas, mas também às filhas dos outros e aí sim, mesmo que tem só filhos meninos, também tem um papel importante e exerce uma influências bem significativas no comportamento de várias dessas mocinhas.Bom, no texto abaixo vocês vão entender um pouco melhor do que eu estou falando. Acho que o ponto que a Lisa Bloom coloca é super pertinente, interessante e merece ser considerado. Afinal, quem é que nunca puxou assunto com a filha de alguma amiga falando de como ela está linda e de como a sua roupa é incrivelmente bela? Só que precisamos lembrar que há várias outras formas de puxar assunto com essas pequenas os quais não precisa, necessariamente, passar pela aparência, beleza ou afins. Basta usarmos um pouco a cabeça.

Com vocês, a visão da Lisa Bloom sobre tudo isso:

Por Lisa Bloom, escritora

Eu fui a um jantar na casa de um amigo na semana passada e encontrei a sua filha de cinco anos pela primeira vez.

Maya, com seus cabelos castanhos encaracolados e olhos escuros estava adorável em sua camisola rosa cintilante. Quando a vi, eu queria gritar: “Maya , você é tão linda! Olhe para você! Dê uma giradinha e me mostre esse seu lindo modelito cheio de babados!”.

Mas não o fiz. Eu me calei . Como sempre faço em meus encontros com meninas, segurei a minha língua e controlei o meu primeiro impulso, que é sempre lhes dizer como estão bonitas, lindas, bem vestidas, bem cuidadas e bem penteadas.

Mas, o que há de errado com isso? Este é o padrão de conversa “quebra-gelo” que sempre temos com meninas na nossa cultura, não é? E por que não lhes dar um elogio sincero para aumentar a sua auto-estima? Afinal, elas são tão fofas que tudo que eu quero de verdade é esmagá-las quando as encontro. Honestamente!

Mas pense um pouco sobre isso, só por um instante…Esta semana, a ABC News informou que quase metade de todas as meninas com idade entre três e seis anos tem a preocupação de não ser gorda. Em meu livro, Straight Talk for Women to Stay Smart in a Dumbed-Down World, revelei que 15% a 18% das meninas com menos de 12 anos usam rímel, delineador e batom regularmente; que os distúrbios alimentares estão em alta e a auto-estima está em baixa; e que 25% das jovens americanas preferem ganhar concurso Next American Top Model do que vencer o Prêmio Nobel da Paz . Mesmo brilhantes e bem sucedidas estudantes de faculdade dizem que preferem ser atraentes do que inteligentes. Uma mãe de Miami acaba de morrer em decorrência de uma cirurgia estética, deixando para trás dois filhos adolescentes. E isso não é pouco comum, o que parte o meu coração.

Mostrando a meninas que a aparência é a primeira coisa que você nota nelas acaba mostrando que isso é mais importante que tudo. Isso pode acabar influenciando-as a fazerem dieta aos cinco anos,  usar maquiagem aos 11, fazer cirurgia de seio aos 17 e aplicar Botox aos 23. Como se tornou normal o imperativo cultural de que meninas/mulheres devem ser atraentes 24h por dia, sete dias por semana, elas estão se tornando cada vez mais infelizes. E o que está faltando então? Uma vida de significado, uma vida de idéias e de leitura de livros, de valorização dos seus pensamentos e realizações.

E é por isso que eu me forço a conversar com as meninas da seguinte forma:

” Maya “, eu disse, agachando-me à sua altura e olhando nos seus olhos e completei: “muito prazer em conhecê-la”.“Prazer em conhecê-l também “, ela me respondeu naquela sua vozinha bem treinada e educada com que se fala com adultos.

“Ei, o que você está lendo?” Perguntei com brilho nos olhos e complementei “Eu amo livros. Eu sou louca por eles”.

Seus olhos se abriram e a sua expressão facial “treinada” e educado deu lugar a um entusiasmo genuíno sobre este tópico (mesmo ela tendo feito uma pausa, pois eu era uma estranha e ela parecia um pouco tímida).Eu continuei: “Eu amo livros, e você?” (a maioria das crianças ama!).

“Sim”, ela respondeu, “e eu consigo lê-los sozinha agora!”

“Uau, incrível!”, eu disse.

“Qual é o seu livro favorito?”, perguntei.

“Eu vou pegar! Posso ler para você?”

Purplicious foi escolha de Maya e era um livro novo para mim. Então, Maya se aconchegou ao meu lado no sofá e orgulhosamente leu em voz alta cada palavra que contava a história da heroína que ama rosa, mas é atormentado por um grupo de meninas da escola que só se vestem de preto. E por sinal, o livro era sobre o que as meninas vestem e como as escolhas do seu guarda-roupa definem suas identidades. Assim que Maya leu a página final e fechou o livro, eu guiei a conversa para algumas questões mais profundas do livro: atitude de meninas más, a pressão que elas exercem sobre outras e como não seguir essa pressão do grupo. Ainda, disse a ela que a minha cor favorita é o verde, porque eu amo a natureza, e ela concordou.

Em nehum momento na nossa conversa nós falamos sobre a roupa, o cabelo, o corpo ou quem era bonita. E é surpreendente como é difícil ficar longe desses temas quando se conversa com meninas. Mas eu sou teimosa!

Eu disse a ela que eu tinha acabado de escrever um livro e que eu acreditava que ela iria escrever um também um dia. Ela ficou bastante empolgada com a ideia. Nós duas ficamos tristes quando Maya teve que ir para a cama, mas eu lhe disse que da próxima vez ela poderia escolher outro livro e nós o leríamos e falaríamos sobre ele. Opa. Isso acabou a deixando empolgada demais para dormir e ela acabou descendo de seu quarto algumas vezes.

E assim eu fiz um pouquinho de oposição a uma cultura que envia muitas mensagens erradas para as nossas meninas. Foi um pequeno empurrãozinho para valorizar o cérebro feminino. Um breve momento dando um exemplo a ser seguido. Intencional. Será que estes meus poucos minutos com Maya pode mudar a nossa multibilionária indústria da beleza, os reality shows que denigrem as mulheres ou a nossa cultura encantada por celebridades? Não. Mas eu estava pelo menos mudando a perspectiva de Maya, pelo menos naquela noite.

Na próxima vez que você encontrar uma menina, tente isso. Ela pode ficar surpresa e um pouco insegura no início da conversa, porque poucos perguntam esse tipo de coisa para ela, mas seja paciente e insista um pouco. Pergunte o que ela está lendo. O que ela gosta e não gosta e por quê? Não há respostas erradas. Você só está iniciando uma conversa inteligente.

Para as meninas mais velhas, você pode perguntar sobre temas atuais, como poluição, guerras e cortes nos orçamentos escolares. Questionar o que a incomoda lá fora, no mundo e como ela iria consertar os problemas se tivesse uma varinha mágica. Você pode obter algumas respostas interessantes. Fale a ela sobre suas ideias e realizações e seus livros favoritos. Mostre a ela como uma mulher que pensa normalmente fala e age.

Texto original de:

Lisa Bloom – How to talk to little girls. Texto original aqui.

 

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