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Luto paterno – Quais as consequências da ausência do pai para a criança?

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Há algumas semanas, uma leitora me contatou contando que seu marido havia falecido e pedindo para eu abordar o tema luto paterno e suas consequências para a criança aqui no blog.

Como esse é um assunto complexo, sobre o qual eu não tenho conhecimento, achei imprescindível trazer profissionais para falar a respeito.

Assim, hoje, as psicólogas Graziela Zilio e Renata Green, do Zenklub, falarão sobre as consequências da morte do pai e, assim, da ausência paterna para a criança. Confiram.

luto paterno
Photo Credit: IamNotUnique via Compfight cc

Luto paterno – Quais as consequências da ausência do pai para a criança?

Graziela Zilio e Renata Green, do Zenklub

Historicamente a figura paterna sempre representou um pilar imprescindível. Sabemos que, desde tempos remotos, nossa sociedade se desenvolve de forma paternalista, atrelando a função do pai ao trabalho e sustentação da família, bem como tomador de decisões e agente de imposição de limites. Entretanto, acompanhamos em paralelo grandes mudanças no decorrer dos últimos anos: as mulheres foram conquistando uma parcela maior do mercado de trabalho e adquiriram independência econômica, o que permitiu um redesenho da família: um modelo mais simétrico e uma alteração de papéis na educação e participação no desenvolvimento infantil, agora mais diluídos entre mães e pais.

Atualmente temos um enorme reconhecimento da importância do papel do pai no desenvolvimento da criança, sendo esta interação vista como um dos fatores decisivos dos pontos de vista cognitivo, social e psicoafetivo. Além disso, as teorias psicológicas fundamentam o papel estruturante do pai a partir da instauração do complexo de Édipo, ou seja, a criança conta com o pai como um terceiro elemento que fará o rompimento da relação simbiótica com a mãe. Isso constituirá a criança como indivíduo e facilitará sua integração na comunidade. Pensando no amor sem limites que uma mãe nutre por um filho, vamos considerar encontrar também algum nível de ansiedade e falta de regras nas crianças distantes da figura paterna. Ele seria o responsável por esta tarefa – o amor da mãe é incondicional.

Neste contexto, como lidar com a dura realidade de um pai ausente? Pensando em um caso de falecimento, o primordial é buscar uma rede de apoio social afetiva para mãe e criança. Parentes, amigos e profissionais da saúde são fundamentais para auxiliar na reorganização familiar e psíquica. Mãe e criança(s) precisarão atravessar um processo de luto intenso e extenso, e descobrir uma forma de restabelecer o vínculo rompido. Este processo pode variar de acordo com a qualidade da relação que existia, com a personalidade dos envolvidos e com a forma como o falecimento aconteceu.

Importantíssimo enfatizar que em qualquer idade existe a noção de desaparecimento de uma pessoa querida, mas isto varia ao longo das etapas de desenvolvimento. Até os 2 anos ainda não existe capacidade cognitiva para entender o conceito de morte. De 2 a 5 anos existe um medo consciente do abandono e a criança compreende a morte como um fenômeno reversível além de possuir um entendimento literal e concreto das coisas. Egocêntricas, podem pensar que este acontecimento tem a ver com elas, por algo que fizeram ou imaginaram. Aqui, as crianças podem se manifestar através de comportamentos regressivos e alterações emocionais – apresentando isolamento e agressividade. A partir dos 6 anos a criança já tem um pouco mais de discernimento, e entende a morte como algo irreversível. Portanto, a comunicação com os filhos deve acontecer da maneira mais natural possível: dizer-lhes que é um processo natural e garantir que ocorrerá de forma imediata.

Se o caso for de abandono ou separação, podemos esperar os mesmos sentimentos: tristeza, raiva, culpa, ansiedade, solidão, desamparo. Tanto para a mãe como para as crianças. A diferença pode estar na duração, intensidade e expressão destas emoções. Em ambos os cenários, no entanto, será bastante benéfico para a continuidade do desenvolvimento infantil buscar uma pessoa que possa desempenhar o papel de pai. Muitas vezes a própria criança elege um irmão, avô, tio ou qualquer outra referência com naturalidade e este se mantém como figura de identificação.

Como cada família vai vivenciar isso de uma forma bastante particular, é importante que mães, filhos e parentes estejam atentos a todas as expressões emocionais e alterações comportamentais. O apoio de terapeutas e profissionais da saúde pode ser essencial para oferecer-lhes apoio, atenção e uma escuta amorosa e paciente, além de auxiliar nos processos de nomeação, elaboração e resignifcação dos fatos vividos.

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Graziela Zilio e Renata Green são psicólogas do Zenklub, uma plataforma de atendimento psicológico 100% online.

 

 

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