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Filhos – o combinado não sai caro

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Há muito tempo, quero trazer aqui, para vocês, textos abordando situações vividas com filhos mais velhos, adolescentes e pré-adolescentes. Mas como falar sobre isso se não tenho experiência no assunto? A solução que encontrei foi trazer outras pessoas para falar. E por isso que, hoje, está aqui, para “conversar” com vocês, a Nathália Alves, publicitária, escritora, pesquisadora há 16 anos e mãe de duas adolescentes e autora do Instagram @repertoriodemae, no qual ela divulga diálogos divertidos de suas filhas, além de outros pensamentos para lá de interessantes.

E nessa sua primeira contribuição com o Macetes de Mãe a Nathália irá falar sobre acordos que fizemos com os filhos. Sobre como isso funciona para os dois e lados e como isso funciona mesmo!!! (inclusive, posso dizer que até com crianças beeeem menores essa estratégia também funciona, pois, há bastante tempo coloco em prática com o Leo e o resultado é sempre positivo).

Com vocês, a história vivida pela Nathália e os aprendizados que ela tirou disso.

Photo Credit: Barrett.Discovery Flickr via Compfight cc

O combinado não sai caro (vale também para filhos)

Por Nathália Alves, publicitária, escritora, mãe de duas adolescentes e autora do Instagram @repertoriodemae

“O combinado não sai caro” já dizia um sábio que, provavelmente, tinha filhos. E é verdade! Quanto estresse pode ser evitado com uma simples “regra do jogo”?

Em 2012, Amanda tinha 12 anos e estava no 8º ano do colégio. Passei as primeiras semanas deste ano letivo fazendo minha filha recordar o final de ano difícil que havíamos tido – sim, pois quando o filho fica de recuperação, os pais ficam junto – e passei a repetir um quase mantra o que combinamos assim que ela foi aprovada para o 8º ano: a partir dali, se ela tirasse qualquer nota abaixo de 6,0 (a média da escola), em qualquer matéria, o celular seria confiscado e somente seria devolvido quando retornasse para casa novamente um boletim com todas as notas azuis, como eram chamadas as notas acima da média no meu tempo.

Para o que vem a seguir, é importante ressaltar que em 2012 a febre do smartphone ainda não existia como agora, portanto, eu não seria necessariamente cobrada por nenhuma assistente-social quanto ao que estava decidindo fazer. Já não sei como seria atualmente.

Bom, o fato é que todas as vezes que eu a lembrava sobre esse bendito “combinado”, recebia de volta um convincente “eu sei!” ou o famoso “aham”. As semanas se passaram, as provas chegaram e foram embora. Até que bateu à nossa porta o primeiro boletim do 8º ano: infelizmente duas notas estavam abaixo de 6,0. Mas, puxa, eram 5,5! Eu tinha duas opções: tornar a minha vida mais fácil e fazer vista grossa, afinal ela tinha “quase” atingido a meta. Ou tornar a minha (nossa) vida mais difícil e fazer valer à risca o combinado. Escolhi a segunda alternativa.

Como estava tudo pra lá de avisado, ela mesma veio me entregar o celular, o que partiu meu coração ao meio, mas me mantive firme na decisão. Aos poucos fomos descobrindo outros meios de distração que não fosse o celular: a própria televisão, filmes alugados, jogos de tabuleiro, amigas em casa e livros, muitos livros do interesse dela. O boletim seguinte chegou e, para minha enorme surpresa, novamente com notas vermelhas. Por essa eu não esperava, mas o combinado seguiu firme e forte. Já meu coração, em frangalhos.

Na sequência vieram as férias de julho. Finalmente vislumbrei uma boa desculpa para afrouxar o cinto permitindo que ela acessasse o celular em alguns períodos do dia “apenas por conta das férias” ao que ela respondia com sorriso e vibração. No segundo semestre Amanda trouxe finalmente um boletim todo azul estrelado. Acho que eu fiquei mais feliz do que ela. Na mesma hora entreguei o celular de volta. Foram quase 6 meses sem o bendito eletrônico, 7 livros lidos, algumas amigas recebidas para lanchinhos e quase todos os filmes assistidos.

Hoje olhando para esta situação parece um “castigo” muito  cruel, visto a dependência das crianças (e do Planeta Terra) com a internet, mas tenho a certeza de que ela tirou boas lições deste episódio. Eu tirei alguns aprendizados bastante válidos também: é fundamental pensar duas vezes antes de estipular um “combinado”. Ele realmente pode precisar ser colocado em prática e, se for alterado no meio do caminho, perde-se a credibilidade, a voz ativa e os filhos aprendem que regras podem mudar e brechas podem surgir. E quem vai dar este exemplo a ele? Você? Ninguém ganha com isso. É preciso, portanto, cuidadosamente tentar prever tudo o que vem pela frente a fim de checar se poderá ser cumprido de verdade. Não se renda ao calor do momento. Eu, por exemplo, ao dizer que devolveria o celular “até que viesse um novo boletim todo azul”, calculei mal que isso se daria logo no bimestre seguinte. Mesmo com crianças menores e em situações mais corriqueiras, é possível negociar: é o caso de um combinado sobre o tempo da televisão com seu filho de 4 anos, por exemplo.

Antes de qualquer coisa, esteja certo(a) que o combinado poderá ser cumprido por vocês dois. Estipule a regra ANTES do jogo, ou seja, antes que a televisão seja ligada: “Então quando der o horário do jantar, a tv será desligada e só poderá ser ligada depois que você comer tudo. Combinado?”, “Aham”, “Você entendeu mesmo?”, “Aham”, Não vai ficar chorando ou pedindo pra eu ligar a tv antes da hora?”, “Não!”. Pronto. A chance de dar certo é boa. Se ele der pra trás, no próximo combinado você o terá nas mãos ao lembrá-lo de sua falsa promessa. Com filhos ou com quem quer que seja, se possível, combine antes. Assim ninguém se assusta depois com as consequências e todo mundo vive mais feliz!

Nathália Alves é publicitária, pesquisadora de mercado há 16 anos e mãe de duas adolescentes. É dela o instagram @repertoriodemae onde divulga diálogos divertidos de suas filhas, além de outros pensamentos.

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