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Repórter trabalha com o filho no colo – o que isso nos diz

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Ontem, navegando pela internet, me deparei com uma notícia que me fez parar o que estava fazendo para lê-la. A manchete dizia: Repórter egípcia trabalha com o filho no colo. Na hora, quis saber do que se tratava.

O que aconteceu foi que a repórter do canal de TV privado On TV, Lamia Hamdin, foi fotografada com o filho nos braços enquanto gravava entrevistas com nas ruas do Cairo. Segundo ela, isso só ocorreu porque seu filho estava doente, ela teve que pegá-lo na creche e, naquele dia, ainda precisou trabalhar mais do que o normal.

reporter trabalha com o filho no colo
Imagem: http://www.bbc.co.uk/

 

De cara, essa notícia mexeu comigo, pois deixou claro o sacrifício que essa mãe teve que fazer para não deixar a peteca cair, cumprindo as obrigações do seu trabalho e, ao mesmo tempo, cuidando do seu filho. Coisa que se parece bastante com o que um sem número de mães vive quase todo santo dia.

Só que enquanto eu me sentia tocada pelo que acabara de ler, me deparei com os comentários que algumas pessoas fizeram criticando o ato da Lamia, falando da sua falta de profissionalismo e pedindo, inclusive, a sua demissão.

Nessa hora, só pensei: para o mundo que eu quero descer.

Essa mãe teve que se desdobrar para atender o filho que precisava dela e não deixar seu trabalho na mão. Para mim, isso foi uma prova de extremo profissionalismo, e não o contrário. Ela poderia, simplesmente, ter deixado o trabalho de lado para atender seu filho. Ou então, ter deixado o filho que precisava dela para cumprir com as suas obrigações profissionais. Ou seja, ela poderia simplesmente ter falhado com um deles, mas não o fez.

Para mim. Ela fez milagre. Ela se dividiu e deu conta das duas coisas e isso mostra o quão guerreira é essa mulher e o quanto ela se parece com muitas de nós, que fazemos milagres parecidos quase todo santo dia.

Para mim, a imagem dessa mãe com o filho no colo enquanto cumpre com suas obrigações profissionais foi quase reveladora. Ela escancara as dificuldades que nós, mulheres, experimentamos depois que adentramos a maternidade. Ela deixa claro que nós não temos, muitas vezes, o direito de escolha e a nós cabe a obrigação de dar conta de tudo e, ainda por cima, sofrer com as ferrenhas críticas que nos são feitas.

Mesmo que a grande maioria de nós não chegue a levar o filho nos braços para o trabalho quando ele precisa da gente, leva na mente e no coração, sofrendo por ter que deixá-lo ao cuidado de outra pessoa. Ou então, sofre por deixar o trabalho em segundo plano, sem ter certeza se no dia seguinte, quando retornar, o cargo ainda estará lá, a disposição dela.

Para mim, fica muito claro porque essa notícia, aparentemente banal, tornou-se manchete em diversos jornais do mundo: porque na Lamia há um pouco de cada uma de nós. Há um pouco do nosso sofrimento, dor, dúvida, temor, cobrança, entrega e dedicação. Porque ali, naquela imagem, fica claro que não há ninguém por nós. Que quando a coisa aperta, somos nós que temos que abrir mão e até colocar as carreiras em risco pois dificilmente o homem, o pai, vai assumir uma responsabilidade que é tida como sendo intrínseca à mulher.

Cada vez mais eu tenho certeza que não é fácil ser mãe. Não é fácil ser mãe e profissional. Não é fácil equilibrar os pratos.  E isso foi escancarado hoje, nessa imagem da Lamia Hamdin

Notícia divulgada no site da BBC Brasil.

 

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