Hoje, por exemplo, eu havia planejado ir ao pronto socorro (uau! que programão!). Sim, ando tão sem tempo que estou com tosse, nariz escorrendo e afônica há semanas, mas não tinha tirado uma horinha sequer para correr para um médico e tentar dar jeito na coisa. Aí, ontem, tomei a decisão: amanhã deixo o Leo na escola, vou ao pronto socorro, tomo aquele monte de coisas que eles sempre me dão quando vou lá e volto nova. Quase como se fosse um tempo num spa. Mas quem disse? Leo acordou um pouco enjoadinho e a minha intuição de mãe gritou: aí tem! Levei-o normalmente para a escola, mas senti que logo iriam me ligar, então desisti do passeio no spa, digo, no pronto socorro, e voltei para casa.
E aí, o que aconteceu? Bingo! Pimba! Não deu outra! 10h30min me ligaram da escola. Leo estava com diarreia e mais enjoadinho que de costume e lá fui eu pegá-lo para passar o dia cuidando dele.
E cadê o tempo livre para eu me cuidar? Ir ao pronto socorro? Dar uma atençãozinha para a minha saúde? Foi utilizado para cuidar da saúde do filho, que óbvio, vem sempre antes da nossa em qualquer situação que a gente venha a viver (me arrisco dizer que até no avião, no caso de um acidente, por mais que a gente saiba que deve primeiro colocar as máscaras de oxigênio que cairão sobre nós, vamos, com certeza, colocar antes na prole).
E essa situação que eu vivi hoje é só um exemplo das infinitas em que que o nosso tempo passa a ser consumido pelas prioridades dos nossos filhos. A essa lista, eu poderia acrescentar, ainda, as vezes que deixamos de fazer os nossos programas favoritos para levar o filhote na festa de aniversário do amiguinho, as vezes que deixamos de sair porque o filhote costuma ir cedo para cama, as vezes que não lemos sequer uma página do jornal no domingo porque o filhote quer jogar bola ou pentear a Barbie, as vezes que deixamos de fazer a unha, de cortar o cabelo, de comprar uma roupa nova, de sair para dançar com o marido, de chamar alguém para trocar a capa do sofá, de pagar as contas antes do vencimento, de nos dedicarmos a coisas necessárias ou, simplesmente, de curtirmos coisas banais, como citei lá no início do texto.
Eu não sei se eu sou desorganizada, atrapalhada, enrolada, desmiolada ou burra, mas depois que o Leo chegou eu tenho a impressão de que, se o meu dia tivesse 40 horas, ele seria totalmente tomado e, dessas 40 horas, só restariam uns 20 minutinhos para mim. E olha lá! Quando eu vejo, parece que a semana se foi, o mês acabou e aquela penca de coisas que estavam na minha “to do list” seguem lá. Esperando por um sopro de segundos livres na minha agenda lotada.
Claro que não dedico 100% do meu dia ao Leo, eu também trabalho quando ele está na escola ou dormindo, e isso também me consome. Mas antes de ter o Leo eu também trabalhava, e sempre sobrava um tempinho para aquele livro tudo de bom que eu havia comprado na última ida à livraria, para chamar o encanador para consertar o vazamento, até para tomar um café com calma e paciência em plena quarta-feira à tarde.
E só para vocês terem uma ideia (vocês, que ainda não são mães, porque quem é está entendendo direitinho do que eu estou falando) já vi gente dizendo que sonha com o dia que será internada num hospital, por uma semana, só para poder descansar (e confesso que já pensei o mesmo. ontem, por sinal!). E também já ouvi mãe falando que ter um filho é correr uma maratona todo santo dia e mãe dizendo que criar e educar é participar de uma eterna gincana (é gente, né fácil não).
E concordo com todas elas loucas aí de cima, porque ter um filho (ou, vamos além, ter dois, três, quatro, oito ou 12, como teve a minha avó!) é passar o dia, as semanas e os meses equilibrando os pratos, dando conta deles – os filhos – e ainda do marido, do trabalho, da família, de alguma amiga que está com problemas e raramente, muito raramente, ou quase nunca, dando conta de nós mesmas.
E só para deixar claro, eu não sou uma mãe revoltada e arrependida (talvez um pouco mais cansada e sobrecarregada hoje) e, se eu pudesse voltar no tempo, não deixaria de ter filhos, pois ter o Leo foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida. Só não posso deixar de assumir aqui, para todo mundo, aquela verdade que vocês bem conhecem: depois que os filhos entram por uma porta o nosso tempo livre ou o tempo que dedicamos a nós mesmas sai pela outra. Isso é fato!
PS: e antes que vocês me acusem de não ter lembrado de algo importantíssimo, devo complementar dizendo que o antigo tempo livre também é, MUITAS vezes, ocupado com coisas deliciosas que só quem é mãe tem o prazer de experimentar. Ou seja, no fim, no fim, tudo vale a pena!