Categorias: Relatos e Impressões pessoais

Sobre o tempo que nos falta depois que temos filhos

Compartilhe:
pin it

Captura de Tela 2014-06-02 às 21.10.25O nascimento do Leo me trouxe coisas fabulosas. Me tornou mais criativa, mais corajosa, mais paciente (só com ele, confesso) mais empreendedora, mais cheia de mil ideias. Mas, ao mesmo tempo, me tirou algo bem importante, algo que, sem ele, nada disso que eu citei na frase anterior pode ser aproveitado: tempo. Sim, o nascimento de um filho consome, suga, faz evaporar o nosso tempo livre, aquele que usamos para executar coisas necessárias ou para curtir coisas banais.

Hoje, por exemplo, eu havia planejado ir ao pronto socorro (uau! que programão!). Sim, ando tão sem tempo que estou com tosse, nariz escorrendo e afônica há semanas, mas não tinha tirado uma horinha sequer para correr para um médico e tentar dar jeito na coisa. Aí, ontem, tomei a decisão: amanhã deixo o Leo na escola, vou ao pronto socorro, tomo aquele monte de coisas que eles sempre me dão quando vou lá e volto nova. Quase como se fosse um tempo num spa. Mas quem disse? Leo acordou um pouco enjoadinho e a minha intuição de mãe gritou: aí tem! Levei-o normalmente para a escola, mas senti que logo iriam me ligar, então desisti do passeio no spa, digo, no pronto socorro, e voltei para casa.

E aí, o que aconteceu? Bingo! Pimba! Não deu outra! 10h30min me ligaram da escola. Leo estava com diarreia e mais enjoadinho que de costume e lá fui eu pegá-lo para passar o dia cuidando dele.

E cadê o tempo livre para eu me cuidar? Ir ao pronto socorro? Dar uma atençãozinha para a minha saúde? Foi utilizado para cuidar da saúde do filho, que óbvio, vem sempre antes da nossa em qualquer situação que a gente venha a viver (me arrisco dizer que até no avião, no caso de um acidente, por mais que a gente saiba que deve primeiro colocar as máscaras de oxigênio que cairão sobre nós, vamos, com certeza, colocar antes na prole).

E essa situação que eu vivi hoje é só um exemplo das infinitas em que que o nosso tempo passa a ser consumido pelas prioridades dos nossos filhos. A essa lista, eu poderia acrescentar, ainda, as vezes que deixamos de fazer os nossos programas favoritos para levar o filhote na festa de aniversário do amiguinho, as vezes que deixamos de sair porque o filhote costuma ir cedo para cama, as vezes que não lemos sequer uma página do jornal no domingo porque o filhote quer jogar bola ou pentear a Barbie, as vezes que deixamos de fazer a unha, de cortar o cabelo, de comprar uma roupa nova, de sair para dançar com o marido, de chamar alguém para trocar a capa do sofá, de pagar as contas antes do vencimento, de nos dedicarmos a coisas necessárias ou, simplesmente, de curtirmos coisas banais, como citei lá no início do texto.

Eu não sei se eu sou desorganizada, atrapalhada, enrolada, desmiolada ou burra, mas depois que o Leo chegou eu tenho a impressão de que, se o meu dia tivesse 40 horas, ele seria totalmente tomado e, dessas 40 horas, só restariam uns 20 minutinhos para mim. E olha lá! Quando eu vejo, parece que a semana se foi, o mês acabou e aquela penca de coisas que estavam na minha “to do list” seguem lá. Esperando por um sopro de segundos livres na minha agenda lotada.

Claro que não dedico 100% do meu dia ao Leo, eu também trabalho quando ele está na escola ou dormindo, e isso também me consome. Mas antes de ter o Leo eu também trabalhava, e sempre sobrava um tempinho para aquele livro tudo de bom que eu havia comprado na última ida à livraria, para chamar o encanador para consertar o vazamento, até para tomar um café com calma e paciência em plena quarta-feira à tarde.

E só para vocês terem uma ideia (vocês, que ainda não são mães, porque quem é está entendendo direitinho do que eu estou falando) já vi gente dizendo que sonha com o dia que será internada num hospital, por uma semana, só para poder descansar (e confesso que já pensei o mesmo. ontem, por sinal!). E também já ouvi mãe  falando que ter um filho é correr uma maratona todo santo dia e mãe dizendo que criar e educar é participar de uma eterna gincana (é gente, né fácil não).

E concordo com todas elas loucas aí de cima, porque ter um filho (ou, vamos além, ter dois, três, quatro, oito ou 12, como teve a minha avó!) é passar o dia, as semanas e os meses equilibrando os pratos, dando conta deles – os filhos – e ainda do marido, do trabalho, da família, de alguma amiga que está com problemas e raramente, muito raramente, ou quase nunca, dando conta de nós mesmas.

E só para deixar claro, eu não sou uma mãe revoltada e arrependida (talvez um pouco mais cansada e sobrecarregada hoje) e, se eu pudesse voltar no tempo, não deixaria de ter filhos, pois ter o Leo foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida. Só não posso deixar de assumir aqui, para todo mundo, aquela verdade que vocês bem conhecem: depois que os filhos entram por uma porta o nosso tempo livre ou o tempo que dedicamos a nós mesmas sai pela outra. Isso é fato!

PS: e antes que vocês me acusem de não ter lembrado de algo importantíssimo, devo complementar dizendo que o antigo tempo livre também é, MUITAS vezes, ocupado com coisas deliciosas que só quem é mãe tem o prazer de experimentar. Ou seja, no fim, no fim, tudo vale a pena!

 

Veja mais!