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A função paterna e sua importância

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Imagem: Ima New Daddy
Imagem: Ima New Daddy

Mamães, um mês se passou e aqui estou, mais uma vez, avançando no desenvolvimento dos bebês. A maternidade é uma jornada sem fim, nunca estamos prontas e os desafios, por mais difícil que isso pareça, se tornam cada vez maiores!

Hoje, vou abordar um tema que, para muitas pode ser complexo, mas que para outras tantas pode ser a salvação. Falo sobre a possibilidade, ou melhor dizendo, sobre a necessidade de se separar do bebê e por que não, de dividir os cuidados dele com outra pessoa.Para aquelas que ainda não passaram desta fase, pode soar como uma facada, e para muitas que já passaram, como um absurdo. Mas também acredito que para tantas outras faça sentido. Passados três ou quatro meses do nascimento, mãe e bebê não devem mais se bastar entre si. O bebê precisa descobrir que não é a única razão da existência da mãe e que o mundo é maior do os dois (mãe e bebê). E você também precisa começar a retomar sua vida e isto inclui marido, vida social e, em muitos casos, trabalho.

Chega a hora de voltar a se olhar no espelho, tirar o pijama, cuidar do cabelo e ter uma rotina sua. A essa altura, o bebê já é capaz de suportar não ser atendido de imediato e aos poucos, precisará desenvolver, dentro de si mesmo, mecanismos que aplaquem sua ira e seu desespero. Afinal, a vida que o aguarda não será a Disney onde tudo funciona em uma perfeita sincronia!

Aqui, as funções começam a se modificar, o pai que até então deveria garantir que a redoma que envolvia o bebê e a mãe não fosse rompida, agora deve começar a se inserir entre os dois. Tanto solicitando a atenção de sua mulher, quanto se envolvendo com o bebê mais intensamente.
O pai tem aqui um papel indispensável no desenvolvimento da criança – o de ser um interditor entre a mãe e o bebê, como aquele que retira a dupla de uma relação fusional e passa a moderar os possíveis excessos de apego entre ambos.

Muitas devem estar se perguntando: desde quando excesso de apego pode se tornar prejudicial? Atenção, não é o apego que é prejudicial (jamais!), o que é prejudicial é o seu exagero. Mas como definir o que é exagero? Um sinal talvez seja representado pela mãe desesperada, queixando-se de não poder ir ao banheiro, não conseguir tomar banho, de que o filho não aceita ser acalmado por ninguém senão ela e por aí afora (acredito que muitas de vocês estejam se identificando e imaginando tantas outras situações como essas. Mas fiquem tranquila, isso acontece e pode ser revisto, pois em se tratando de crianças sempre temos a possibilidade de mudar, já que rapidamente eles respondem a reorganização do ambiente à sua volta).

Ok, o bebê naturalmente tem uma preferência pela mãe, mas será que se for permitido a outra pessoa (que tal o pai?) se vincular a ele, mesmo que para isso se enfrente um choro prolongado de protesto, ele não irá aprender que na vida, nem sempre teremos nossas mães para aplacar nossas angústias? Muitas estarão pensando agora: “mas ele ainda é muito pequeno, não precisa se deparar com as tragédias da vida!”.

Sim, ele é pequeno, e é por isto que é a hora de apresentá-lo a obstáculos de seu tamanho e de aprender que sua mãe, além de sua, pertence ao seu pai, ao mundo e a si mesma – o que não significa abandono. Não restam dúvidas de que, logo que nasce, a criança precisa de cuidados e de toda a atenção possível. No entanto, é função da família oferecer o equilíbrio emocional para estimular os pequenos a criarem autonomia desde cedo.

A mãe deve ser capaz de facilitar a entrada do pai, pois ela tem a função de apresentar ao bebê esta figura (que não necessariamente será o “pai” de carne e osso, pode ser outra pessoa que exerça este papel, que rompa a relação simbiótica da mãe e do bebê), para que ambos se abram ao mundo e para que a criança comece explorar este mundo e a se distanciar da mãe, para avançar em seu desenvolvimento. Pode ser que não exista “alguém” concretamente, uma pessoa, desde que a realidade com suas exigências se interponha – entre o bebê e a mãe – e os tire do estado onde “os dois são um”.

Este afastamento e a possibilidade de outros tipos de interação enriquecem o repertório da criança, oferece novos modelos com os quais ela poderá identificar-se para, a seu tempo, formar sua personalidade. Pouco a pouco as novas conquistas do bebê o conduzem a modificações frente ao mundo (sendo estas tão importantes quanto o nascer): a criança se põe de pé, caminha, fala e inicia o período do desmame.

Muitas mães relatam que os maridos não ajudam e o quanto se sentem sozinhas na árdua tarefa de cuidar de alguém. Por outro lado, nesta minha longa caminhada como psicóloga e trabalhando em escolas infantis, percebo uma grande desvalorização das contribuições dos pais.

Não são raras as vezes, que as mães contam com desdém as investidas dos pais para ajudar. Tá bom que eles sejam um pouco desajeitados, afinal, são iniciantes, como as mamães também já foram em um tempo não muito distante, mas aprendizados à parte, não podemos esquecer que este jeito “pai” de se relacionar com o bebê, sem tantas precauções, é tão importante quanto a segurança e a tranquilidade do colo da mãe.

Na mesma proporção que vejo mães queixando-se da pouca ou nenhuma ajuda dos maridos na criação e cuidados com os filhos, as vejo desfazendo suas tentativas. Eles sempre erram! Ou porque não colocaram roupa, ou porque a roupa não combinava, ou por não arrumarem o cabelo, ou por terem saído no sol ou no frio e por aí afora. E aí, e quando eles vestem as crianças corretamente, as alimentam de forma saudável e penteiam o cabelo, deixaram a casa em situação de miséria! Ou seja, não tem jeito de acertar.

E aí, quem é que continuaria ajudando em sã consciência?

Se observarmos, até a forma de segurar o bebê varia. Enquanto a mãe tende a voltar o bebê para ela, o pai tende a segurá-lo voltado para o mundo. Nestas pequenas atitudes, o bebê vai sendo preparado para se independizar e este é um passo importante rumo a um desenvolvimento saudável. Quando a criança sai deste universo narcísico, voltado para si, ela ganha a possibilidade de se ver inserida nas relações sociais. Seu universo se amplia e ganha vida.

Talvez a importância do post de hoje seja justamente trazer à tona a necessidade de o bebê, em torno dos seus 4 meses, sair da redoma inicial. Ou seja, que nesse momento, ele passe a ser visto como alguém que resistirá as intempéries da vida, que nem tudo é da forma que ele quer e que ele pode esperar sim.

Deve haver uma multidão agora pensando que sou uma desalmada, pois não entendem que possa haver uma razão para submeter este serzinho tão pequeno a um sofrimento como este, afinal, o tempo passa tão rápido e logo eles ganharão o mundo e elas sentirão saudades deste tempo de “escravidão”. Mas o que eu posso dizer é ser mãe é também abrir mão deste prazer infinito de ser o tudo de alguém e permitir que o filho se desenvolva psíquica, física e cognitivamente por si só. A “falta” que se produz neste espaço, quando o bebê precisa esperar, é na verdade um passo fundamental para estruturação do mundo interno do bebê e dos mecanismos que o protegerão ao longo de toda a sua vida dos sofrimentos que virão.

Um vínculo é saudável quando os envolvidos preservam sua identidade e podem fazer escolhas individuais, e é prejudicial quando há delimitação pouco precisa entre o eu e o outro. E permanecer nesta dependência pode ocasionar algumas pequenas dificuldades no desenvolvimento emocional da criança, tais como sofrimento excessivo na entrada na escola, insegurança e até mesmo baixa auto-estima. Mas também produz um efeito significativo no casamento, pois se a mãe não retoma um pouco da sua vida pessoal é claro que a relação a dois também acaba prejudicada.

Assim, fica claro que a criança necessita dos braços (para protegê-la, alimentá-la, aquecê-la e afagá-la) e das pernas imóveis da mãe (que lhes servem de bases estáveis e referência), mas, ao mesmo tempo, precisa também, e em igual intensidade, dos braços (para puxá-la do colo da mãe e evitar o prolongamento excessivo da dependência materna) e das pernas móveis do pai (para caminhar e conhecer o mundo).

Atualmente, observamos adultos cada vez mais intransigentes e indiferentes ao que não é de seu interesse, e esse tipo de comportamento inicia na infância, quando crianças começam a se tornar ultra exigentes e os pais a se desmontarem por acreditar que atendê-los é a sua obrigação. E este funcionamento, entre outras coisas, é um resquício de falhas neste processo de separação inicial entre o bebê e a mãe. Esta interdição realizada pela figura paterna, representa psiquicamente tudo aquilo que “não podemos alcançar” na vida. O primeiro lugar na fila, a vitória no jogo de futebol, todas as Barbies da loja, a nota mais alta, o chocolate no supermercado, o garoto mais bonito da classe!

Assim, deixo a dica: aceite ajuda! Aceite que o pai (ou outra figura que o represente) torne-se o terceiro pilar nessa relação que nos primeiros meses é formada apenas por duas bases. Essa atitude trará benefícios para todos: para a mãe, que poderá retomar um pouco da sua vida, para o pai, que irá ter maior prazer na relação com o filho, e para o bebê, que será apresentado ao mundo de forma saudável e equilibrada.

Raquel e a encantadora Karol

Raquel Suertegaray é psicóloga e mãe da Karol, de 10 anos, uma menina inteligente, esperta e linda que foi adotada aos seis anos de idade. Ela é formada pela PUC-RS e é especialista em Infância e Adolescência e em Avaliação Psicológica pelo Instituto Contemporâneo de Psicanálise e Transdisciplinaridade de Porto Alegre. Já trabalhou como psicóloga de abrigos infanto-juvenis e atualmente atua em consultório particular e como psicóloga escolar. Sob sua responsabilidade também está a Escola Pirlimpimpim de Educação Infantil, da qual é dona e diretora há dois anos. 

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