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A importância de aprender a esperar e ouvir “nãos”

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cortar o cordão umbilicalUma das dificuldades que eu percebo ser mais comum a mães de primeira viagem (mas também pode acontecer em casos de segundo, terceiro, quarto filho…) é a maternidade tornar-se uma “prisão” (palavra forte essa, mas é mais ou menos isso sim). Ou seja, o tempo passa e a vida não volta ao “normal” (ou pelo menos próximo disso). Para algumas mães, isto é encarado como natural, fazendo parte do pacote, mas outras se questionam se precisa mesmo ser assim e, o mais importante, até quando?

Em muitos dos meus textos já comentei que é natural e esperado que os bebês sejam muito agarrados às mães no início da vida, pois a situação de dependência e a proximidade da dupla cria um vínculo com características únicas, mas a intensidade e a duração desta ligação, que muitas vezes parece simbiótica, onde não se encontra o limite entre um e o outro, depende, em grande parte, da forma como a mãe lida com este momento.

Até os 3 ou 4 meses o bebê necessita de uma atenção bem intensa, que suga literalmente todas as energias da mãe, e aí fica difícil dar atenção ao marido, à casa e até mesmo para si própria. Isso é totalmente normal. Neste período, acontece inclusive um incremento na capacidade da mãe de comunicar-se de forma quase que subliminar com o filho. Estas mudanças fazem parte do que chamamos de fase de Preocupação Materna Primária, onde ocorre uma espécie de regressão (para o bem) que permite que a mãe se aproxime do estado do bebê.

A partir deste período, é esperado que a mãe comece a retomar, pouco a pouco, sua vida e voltar-se para suas necessidades (como mulher), o que naturalmente cria uma situação em que o bebê não mais poderá ser atendido prontamente. Quando esta transição se dá de forma gradual, o bebê vai tendo que lidar com esperas e pequenas frustrações e, desta forma, ele vai desenvolvendo recursos para lidar com a falta, pois aos poucos se depara com elas e desenvolve esta capacidade.

Quando as mães não se permitem este afastamento, muitas vezes por pensarem que esta fase de bebê é tão gostosa e passa tão rapidamente, de alguma forma elas impedem que o bebê aprenda a esperar, o que na vida é fundamental. Nesta fase é muito bom correr e dar um colinho ou o peito, mas é importante pensar que este bebezinho vai crescer e aos dois anos, geralmente, nem mesmo a mãe vê com bons olhos uma criança que não é capaz de esperar pelo menos um pouquinho.

E a capacidade de receber um não ou esperar começa a se formar desde o nascimento. No inicio, como já comentei, atender prontamente um bebê torna-o integrado e seguro, mas depois, não sendo “tão eficiente”, ou seja, deixando-o esperar um pouco, estamos ajudando-os a tornarem-se preparados para a vida, que nem sempre é aquela tranquilidade e facilidade que se encontra no colinho de mãe.

Vejo em fóruns e em conversas da vida real crianças de um ano ou mais que ainda não permitem que as mães faça nada e que não aceitam que outras pessoas as atendam, nem mesmo o pai e aí eu chegou à conclusão que, possivelmente, elas não venham se deparando com estas frustrações de forma gradual.

Talvez, na maior das boas intenções, estas famílias estejam atendendo todas as necessidades da criança, evitando todas as lágrimas de seus filhos. Sim, eu sei que é duro ver estes pedacinhos de gente que tanto amamos “chorando” e fazendo-os entenderem que esperar faz parte da vida, dói na gente, ou em muitos casos, irrita e cansa, mas acredite, é importante.

Como tudo na vida, existe um limite e é uma experiência importante se deparar com “a falta” de algo que desejamos e até mesmo precisamos. Crescer implica em se separar, em ficar independente, e para isso precisamos crescer por dentro e só cresce quem precisa. Quem tem tudo na mão, como e quando quer, acaba perdendo muito e sofrendo mais no futuro (quando se cresce, ganha-se muitas coisas, mas perde-se outras. Assim é a vida).

Percebo nestes muitos anos trabalhando com crianças que aqueles que são excessivamente protegidos pelos pais, sendo vistos como frágeis, no futuro tem mais dificuldades para lidar com agruras da vida em sociedade, que exige dividir o brinquedo, não ser o primeiro a ser atendido, esperar, não ganhar, não fazer…

Claro que é ruim perder ou abrir mão de algo que desejamos, mas precisamos aprender. Renúncias que ajudam na construção da capacidade de lidar com as perdas que a vida irá nos trazer. Esta responsabilidade, de dizer “acabou”, “não tem”, não dá”, “espere”, é dos pais e não das crianças. Mal vai fazer continuar conseguindo o que quer, na hora que quer, pelo choro.

Hoje é por você, amanhã será pelo brinquedo, pelo chocolate, pra ficar mais na amiginha, por muitas coisas. Não, é não. O significado destas negativas é muito simbólico. Pense o seguinte: se você ganhasse um presente sempre que chorasse e gritasse, algo que você quisesse muito, você não choraria e se jogaria no chão a toda hora? Eu sim!!!! Então, vale a pena refletir um pouco sobre o tipo de comportamento dos nossos filhos que nós estamos reforçando. Se é o de ganhar o que quer pelo choro e grito ou se é o de entender que esperar ou receber um não são coisas naturais e fazem parte da vida. É com vocês.

Um beijo e até a próxima!

Colunistas MdM Raquel - Psicologia

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