É engraçado porque eu achava que seria impossível voltar a viver, mas hoje já vejo que consigo fazer isto. Já penso, inclusive, em tentar ter um(a) filho(a), afinal sempre gostei de família grande e a minha mais velha já vai fazer 5 anos. Mas ainda estamos com calma, curtindo as tentativas…rs.
O que me levou a lembrar deste e-mail e a querer escrever foi o fato de ter sabido, há algum tempo, que uma ex professora da minha menina teve um bebê, que faleceu alguns dias depois de nascido. Acho que toda mãe que já teve a infelicidade de passar por isso, sente a mesma coisa. Parece que tudo volta, que tudo acontece novamente com a gente. E aí fiquei pensando muito nela, na mãezinha e na dor que ela estava sentindo… e fiquei pensando porque as pessoas mal falam sobre isso e porque muitas pessoas somem neste momento.
Daí fui revivendo estes quase 2 anos, que me ensinaram tantas coisas e das quais acho que podem ajudar, não só as mães (e pais) que passam por este momento, mas também, para as pessoas próximas, que se importam com esta família.
Acho importante que as pessoas saibam que nós, mães de anjos, não precisamos de piedade. Não sintam pena de nós, pois sabemos que nossos bebês estão bem, estão amparados e acolhidos.
Se não souberem o que falar, por favor, não falem nada. Não digam: “foi melhor assim” (não foi, sério!) ou “você é nova, pode ter outro filho” (gente, um filho nunca vai substituir o outro) ou então: “Deus sabe o que faz” (a gente sabe que Deus sabe o que faz, não precisamos ouvir isso de novo). Se não souber o que falar, simplesmente dê um abraço e diga: “Conte comigo, estou com você”. Falo isso porque ouvi todas essas frases e tinha muita raiva disso, a ponto de me afastar das pessoas porque não queria mais ouvir aquilo. Por outro lado, muitas pessoas também se afastaram, acredito que, por medo de não saber o que falar e de se sentir na obrigação de fazê-lo.
Um outro ponto que considero extremamente relevante: não excluam o pai deste momento. Pensem na mãe, mas pensem também no pai. O sofrimento dele não é menor só porque não foi ele quem carregou o bebê no ventre. Digo isso porque vi meu marido perder as forças. E em muitos momentos, fui eu quem tive que levantá-lo e fortalecê-lo, pois as pessoas só perguntavam por mim e esqueciam dele. Hoje o nosso casamento melhorou 200% porque chegamos à conclusão de que a ida tão repentina da nossa bebê teria que servir para alguma coisa. E serviu, pois nós estamos mais unidos e mais pacientes.
Acho também que a religião foi fundamental no meu caso. Até hoje tenho alguns rompantes de raiva e ainda brigo com Deus, mas já não me sinto culpada em fazê-lo, pois sei que nossa relação é como aquela relação de pai e filha, onde a filha fica chateada em um primeiro momento porque o pai não a permitiu fazer algo, mas logo depois estão de bem. E pai que é pai ama o filho e o perdoa independente de tudo e quem é mais Pai do que Deus, né? :-)
Enfim… só de escrever já me sinto mais leve. Eu sei que a dor sempre vai me acompanhar, assim como a saudade de um futuro que não teremos juntas, mas o tempo… ah, o tempo! Ele é tão poderoso que me fez voltar a sorrir, me fez voltar a querer viver, me fez ter a certeza de que as coisas que acontecem não podem ser em vão. E se ele fez isto comigo, é certo de que poderá fazer com a mãezinha, ex-professora da minha filha e com outras mães (e pais) que, infelizmente, passam por isso. Depende da gente encontrar a força para caminhar e ter a certeza de que um dia encontraremos nossos anjinhos, que estão muito bem amparados onde estão.
Shirley, muito obrigada por este momento. De verdade!