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A primeira noite de amor no pós-maternidade (para rir, ou chorar, o que vocês preferirem!)

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Há um tempo atrás li um texto cheio de melosidades no qual dizia que, por um tempinho (ou tempão) no pós maternidade, os casais não se encontram, não namoram, não trocam carícias e nem fazem juras de amor (até aí tudo certinho). Mas que aí, numa linda madrugada, entre uma troca de fraldas e outra, entre uma sessão de dar de mamar e outra, o marido e a mulher se vêem. E, após terem cuidado carinhosamente do bebê juntos, o marido pega na mão da esposa, a conduz até o quarto do casal e lá ambos voltam a se enxergar como MARIDO e MULHER, e não só como pai e mãe.

Aqui, nesse ponto exato do devaneio, preciso fazer um parênteses: Gente, dá licença, mas isso não existe! É lindo, enche os olhos da gente de lágrimas, mas é a mais pura conversa pra boi dormir!!! Queria eu saber em que casa de que planeta esse negócio lindo e inspirador aconteceu. Porque, o que a gente está acostumada a vivenciar nos lares de gente real e que paga conta no fim do mês é mais ou menos o seguinte:

O marido e a mulher não se encontram no quarto do bebê, eles tropeçam um no outro naquele espacinho minúsculo e cheio de tranqueiras, e não cuidam do bebê juntinhos, como se essa fosse uma tarefa que normalmente é dividida. O que acontece é que a mãe se descabela para cuidar de tudo enquanto o maridão fica ali do lado, dando apoio emocional e distribuindo pitacos. Quando muito!

E essa, de que ele pega na mão da esposa e a conduz para o ninho de amor deles, também é piada. Porque depois de todo o período da quarentena, que em muitos casos vira uma noventena, mais o tempo que o pobre coitado do marido ficou na seca, no fim da gravidez (e quando é só no fim ainda está ótimo) ele quer mais é arrancar a mulher pelos cabelos daquele quarto e arrastá-la para a cama como na época das cavernas. A verdade é essa. Nua e crua.

E esse negócio de romance na época das cavernas não fica só por conta do maridão, que deu um vem-cá-minha-nêga na esposa. A doce esposa também já é quase uma reencarnação de uma aborígene, já que a última vez que o corpicho da pobre viu uma depilação foi quando essa estava se preparando para o parto. Então, nesse quesito, até que o casal combina. Ele com aquela fome de caça e ela só faltando vestir uma roupinha de pele de algum bicho, porque o cabelo e o cuidado com a pelaiada do corpo é do tempo que surgiram as primeiras pinturas rupestres.

E é nesse clima de dá ou desce que a coitada da mulher, varada de sono, caindo pelas beiradas, resolve que não dá mais para enrolar e cede aos “encantos” do seu esposo. E ambos caem na cama (bom, ela cai mesmo, feito uma pedra, tamanho o sono) e se entregam a uma voraz noite de amor. Sim, é isso que eles juram que vão fazer, afinal, já que estão ali, que curtam o momento. Mas é óbvio que o fofinho do quarto ao lado não deixa. É só o maridão colocar a mão em cima do peito da esposa que parece que o inocente serzinho, que até então dormia placidamente, começa a se acusar. E ele grita tão desesperadamente que até parece que ele também tem a sua própria babá eletrônica e que está acompanhando tudo e tendo aquela reação insana porque precisa defender a sua única fonte de sobrevivência: “Esse peito é meu, tira a mão daí! Esse tu já perdeu, playboy!” (certeza que é algo como isso que ele tenta expressar!). Bom, nem precisa vir o segundo grito. Já no primeiro a mãe está de pé e o pai foi arremeçado contra a parede. A mãe sai correndo do quarto, como se estivesse indo tirar o filho da forca e não do berço, e nessa de acalmar a ferinha passa algo em torno de uma hora. Ou duas, ou três. Ela nem sabe mais.

Bom, mas ela volta. Apesar daquela incursão ao quarto ao lado parecer uma eternidade, ela está de volta. O maridão, que aproveitou esse intervalo para descansar, já está a postos e o embate reinicia. Dessa vez, o bebê dá uma folga e brincadeira parece que vai rolar. Mas só parece, porque, quando menos se espera, eis que ambos sentem uma umidade fora do comum (e que não vem do lugar que costumava vir). Depois de uma breve investigação, percebe-se que a novidade é, nada mais, nada menos, que o peito que resolveu vazar. Sim, porque é só ele não ter que fazer isso que ele resolve fazer. Até mãe que tem pouco leite, que sofre para arrancar míseros 10ml usando a tal da bomba de sucção, nesse momento parece que é agraciada com o dom divino da multiplicação do leite. É um tal de pinga, escorre, espirra, jorra, que ambos resolvem enfiar uma fralda dentrou do soutien e deixar aquela área resguardada para uma próxima expedição.

Bom, mas nem tudo é tosco nessa primeira noite de amor. Pelo menos, o quarto está à meia luz e toca ao fundo uma música calma e relaxante. Tudo obra divina da babá eletrônica, que está ligada, emitindo aquela claridade típica dela e transmitindo os lullabies que tocam na caverninha situada há poucos metros.

E mais uma coisinha, antes que eu esqueça e que vocês venham dizer que eu não avisei. Vocês viram que no parágrafo acima eu falo em PRIMEIRA noite de amor? É isso mesmo, minha gente. Essa noite é como a primeira, aquela primeirinha lá da adolescência, que você nem lembra mais quando foi, como foi e com quem foi. Mas não é pela empolgação, pela curiosidade, pela ansiedade e pelo amor juvenil que fervilhava em vossas veias. Mas pela dor filha da puta que você irá sentir nas suas entranhas quando houver a consumação do tal ato que vocês já estão tentando há quase três horas. Sim minha amiga, depois do parto, seja ele normal, natural, cesáreo, sentado, dentro da água ou o escambau, doi pra cacete para fazer sexo de novo. Eu achei que essa dor mala fosse só para quem teve parto normal, mas já faz um tempinho que descobri que não. Que tudo ainda está tão reivirado lá por dentro que vai doer para todo mundo.

Enfim, isso é mais ou menos como as coisas no terreno afetivo e sexual voltam funcionar depois do nascimento de um bebê. Claro que essa desgraceira toda passa, que a questão do sono aos poucos vai melhorando, que você vai conseguindo tempo para ir no salão e fazer uma depilação, mas isso não costuma acontecer de uma hora para a outra. Por isso, se você anda se sentindo a última das criaturinhas das cavernas porque a sua libido ainda não voltou e a sua vida sexual parece mais um fim de feira, relaxe. Garanto que não é só no seu harmonioso lar que essa situação acontece.

Com o tempo as coisas voltam ao normal, sejam as coisas físicas, emocionais ou transcendentais (mesmo! verdade! eu juro!), e vocês vão estar de novo curtindo e treinando para fazer o próximo baby tão fofinho e gostoso quanto o primeiro.

Em tempo:

  1. Desculpem o uso de palavras de baixo calão. Mas esse texto não teria o mesmo gosto se eu ficasse com papas na língua.
  2. Só para esclerecer: isso aqui é um relato irônico e exagerado, que mais do que traduzir a realidade serve para arrancar algumas risadas. Então, como já dizia a célebre frase da nossa querida Marta Suplicy: relaxe e goze! O negócio é difícil mas não é impossível.

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