A Gabriela Giacheta é a colunista de Aleitamento Materno aqui do blog. E quem escuta isso, deve pensar que a sua experiência em amamentação é um exemplo a ser seguido, afinal, quem pode saber mais sobre o assunto que ela? Mas a verdade é que não é ou não foi bem assim. Justamente o fato de não conseguir amamentar da forma que sempre sonhou levou a Gabriela a estudar, se informar e escolher uma nova profissão, a de Consultora em Aleitamento Materno.
Hoje, a Gabriela conta para nós a sua história. Uma história de momentos tristes e arrependimentos, mas também de muita garra e vontade de fazer diferente e fazer melhor.
Com certeza, um relato de emocionar. Uma história que vale a pena ser conhecida.
Boa leitura.
Como a minha história me tornou quem eu sou hoje
Por Gabriela Giacheta
Sou enfermeira formada há sete anos. Em 2009, conclui minha especialização em obstetrícia e, nesse momento, já trabalhava em um hospital particular de referência em Campinas. Atuava como enfermeira, na atenção aos adultos e idosos e, mesmo após o término da obstetrícia, me mantive nesse setor. Motivo: me encantei pelos idosos. Então, fiz minha segunda especialização em gerontologia e me apaixonei de vez.
Nesta época – janeiro de 2012 – veio a notícia da gravidez, em uma fase em que eu estava absolutamente envolvida na área de gerontologia e totalmente afastada da obstetrícia. Nessa época, também começaram as primeiras consultas pré-natal e os questionamentos padrão da minha médica:
– Vai querer amamentar? E a minha resposta: “Claro!”, afinal, não tinha outra possibilidade dentro de mim senão essa: amamentar meu filho.
– Pensa em parto normal? E a minha resposta: “Eu quero parto normal.”
Para mim, estava tudo resolvido. Querer era poder. Eu teria um parto normal e amamentaria. Simples assim.
Só que como eu disse, eu estava totalmente envolvida com idosos e, assim, não fui atrás de nada. Não me informei, não fiz cursos de preparo, não li sobre gestação e parto, não corri atrás de absolutamente nada! Afinal, eu tinha certeza que entraria em trabalho de parto, minha bolsa iria romper, eu iria para o hospital e meu bebê nasceria. Na minha cabeça, era simples assim ter um parto normal. Quanto inocência e falta de informação!
Tudo correu como o esperado na minha gestação até que, por volta de 37 semanas, minha obstetra foi embora do país e eu fiquei “na mão”. Sim, eu fiquei grávida e sem rumo! Chorei, me revoltei, travei, senti raiva, abandono, medo e frustração. Passei a me consultar com outra médica, mas as consultas eram mais rápidas e eu voltava para a casa cada vez mais desanimada. Parecia que estava tudo errado e estranho (Hoje eu me pergunto: Porque não escutei meu coração e fui atrás de outra coisa, outro caminho?).
Com 38 semanas perdi o tampão mucoso e me alegrei. Era um sinal. Fomos ao hospital e a médica do PS me disse: nada de dilatação, pode voltar para casa. Desanimada, voltei. Passaram-se alguns dias e, então, com aproximadamente 39 semanas e meia, após a consulta de rotina, as alternativas que me deram foram que poderíamos esperar mais uma semana ou poderíamos marcar uma cesárea. A médica não me apressou, mas também não me esclareceu os prós e contras destas escolhas.
No meu íntimo, eu sabia que poderia esperar. Eu sabia que ia dar certo. Mas não posso negar que nessa última consulta senti medo, impaciência, ansiedade, culpa caso algo viesse a acontecer, senti que não seria capaz e, assim, me rendi a uma cesárea, mesmo não sendo isso que eu queria.
Nessa hora faltou conhecimento, faltou empoderamento, faltou leitura, faltou o preparo que achei não ser necessário. Faltou uma equipe ao meu lado que entendesse do assunto e me apoiasse. Faltou muito, mas muito esclarecimento. E não estou falando como enfermeira, falo como mulher e grávida do meu primeiro filho.
Com 40 semanas e um dia, então, meu pequeno nasceu através de uma cesárea marcada. Fui para o centro-obstétrico e lembro, como se fosse hoje, que a minha boca ensaiava em dizer “Para tudo. Não quero isso”, mas as palavras não saiam. Apenas sentia o frio daquela sala, o abandono da médica que se atrasou, a tristeza do marido que não poderia entrar ainda. Estava sozinha e lembro que algumas lágrimas escorriam. Lágrimas de medo, de culpa, de ansiedade e de sentimento de impotência.
Mas então, em meio a tudo isso, ele nasceu. Lindo e, graças a Deus, saudável. Mas, claro, não pude tocá-lo nesse momento e muito menos colocá-lo em meu peito, afinal, eram muitos os procedimentos pelos quais ele deveria passar. E era muita pressa, muita desumanização e, muito provavelmente, também a necessidade de se liberar a sala.
Me trouxeram meu filho acho que só uma hora após o nascimento e, para minha alegria, ele mamou como se já tivesse feito aquilo antes. Fiquei tão feliz e realizada, sem imaginar o que viria depois.
Tive um puerpério difícil, longe da família (fui resistente em chamar minha mãe de volta, não queria atrapalhar) e com o marido trabalhando o dia todo. Estresse muito grande, exaustão, insônia, cólicas e mais cólicas. Passei a me alimentar mal, dormia pouco e por volta dos três meses de vida do bebê tive problemas na amamentação. Então, um pediatra “desumanizado” e despreparado acabou receitando complemento (para ele, um bebê que ganhava 50-60 gramas por dia não poderia ganhar “só” 20 gramas).
E foi exatamente após uma semana desse acontecimento que me dei conta de que TUDO estava errado!
Troquei de pediatra, no entanto, a confusão de bicos já estava instalada e só consegui mantê-lo no peito até o início do quinto mês. Desmame precoce por falta de informação e orientação, por falta de um parto, de apoio, de estar ali 100% com ele, naquele nosso momento de vida.
Estava prestes a voltar de licença maternidade, ou seja, adaptação do bebê no berçário, e isso o fez desmamar de vez. E eu não estava feliz, me sentia frustrada e, algo maior me incomodava.
Assim, passei a ler, buscar, me informar. Então veio a culpa: o que fiz com o nascimento do meu filho? Como não fui atrás disso antes? Seria capaz de amamentá-lo por mais tempo? Fui entender tudo com ajuda de uma terapeuta maravilhosa e o passo seguinte foi pedir demissão do meu trabalho (três meses após ter retornado) e então me jogar de cabeça na maternagem!
Fiz cursos em aleitamento materno, consultoria em aleitamento pelo GAMA, curso de doula pós-parto também pelo GAMA. E hoje, a passos lentos, tenho buscado trabalhar ajudando mulheres no pós-parto e na amamentação, podendo dar o que não recebi. Afinal, senti na pele, passei por tudo e não existe melhor vivência do que essa.
Algum tempo após pedir demissão, tirei meu filho da escola e ficamos em casa. Mãe em tempo integral e fazendo as consultorias de noite, após marido chegar do trabalho. Esse ano ele fica três vezes por semana em um espaço e eu estou exercendo meus atendimentos no Arte de Nascer, que é um espaço aqui na cidade de Campinas que acolhe gestantes e mulheres nos pós-parto, onde existe uma excelente equipe trabalhando pela vida e para o bem.
Mas penso que nada nos acontece por acaso, afinal graças ao meu filho descobri meu caminho, estou descobrindo o sentido das coisas, o sentido de viver, da maternidade, de educar uma criança. Talvez se tivesse dado tudo certo, não estaria aqui trabalhando com o que realmente me completa.
O que desejo para você grávida, mãe, mulher é informação e conhecimento. É escutar você mesma, seus instintos e buscar ajuda especializada de quem realmente entende do assunto sempre que precisar!