

Olá mamães, como estão? Estou eu aqui novamente e, dessa vez, para atender a pedidos e abordar um assunto que foi bastante solicitado pelas leitoras do Macetes de Mãe: o desfralde. Esse é, sem dúvida, um dos grandes marcos do desenvolvimento infantil e também um desafio para pais e crianças. Além disso, é um dos primeiros passos rumo à autonomia e um momento delicado, que para muitos, pode causar grandes angústias, pois traz à tona conflitos latentes.
Para a criança, o desfralde é uma tarefa nova que implica em adaptações e, também, em aprender a abrir mão do que se está fazendo para ir ao banheiro o que, em seu universo, pode ser uma grande renúncia. Na verdade, uma das muitas que a criança irá encarar ao longo da vida, e que por isso é importante que esta capacidade já tenha começado a ser desenvolvida antes, através de frustrações e esperas.
No momento do desfralde, a criança descobre algo que depende exclusivamente dela, da vontade dela, pois no final das contas, é do seu corpo que estamos falando e ela decide se entrega ou não sua produção (os excrementos) para quem quer que seja.
O aprendizado do controle esfincteriano é influenciado por fatores fisiológicos, psicológicos e socioculturais e neste processo é muito importante que a família e a escola, se a criança frequentar, falem a mesma linguagem, pois isso facilitará todo o processo, evitando confusões. Então, antes de iniciar, converse com as pessoas que estão envolvidas com os cuidados do seu filho e estabeleçam algumas diretrizes.
Em torno dos 18 meses de idade é um bom momento para começar a observar se a criança está preparada, mas não é necessário ter pressa.O importante é respeitar a criança, pois cada uma tem o seu ritmo. Geralmente, até os 3 anos as crianças estão prontas e quando elas estão, o processo tende a ser fácil. A seguir listarei alguns sinais que apontam para a prontidão da criança para essa importante mudança:
A criança já aprendeu a andar
Tem paciência para ficar sentada
Faz bastante xixi de cada vez
Fica “seca” por, pelo menos, três ou quatro horas, ou seja, consegue segurar o xixi
Não gosta de ficar molhada (de xixi)
Presta atenção e entende o que os adultos dizem
Sabe o lugar dos objetos e começa a guardá-los corretamente
Se interessa por ver os outros indo ao banheiro
Faz xixi e cocô em horários previsíveis e tem mais consciência do próprio corpo
Pouco a pouco, a criança deve ser estimulada a prestar atenção em seu corpo e nas sensações que advém dele. É relevante ressaltar que cada criança tem um ritmo diferente e é fundamental respeitar os seus limites, sendo assim, cada processo será único e não depende apenas do desejo dos pais.
Antes de iniciar a retirada das fraldas, é necessária uma conversa com a criança, em que se apresente o penico ou redutor convidando-a a se sentar mesmo sem retirar a calça e dizer que agora ele será usado para fazer xixi e coco.
Quem opta pelo penico deve estar atento ao fato de que ele não é um brinquedo e de que não se pode andar com ele por toda a casa. Ainda, é importante estabelecer limites adequados, mostrando que cada coisa tem o seu lugar e que lugar de fazer xixi e coco é no banheiro e não na sala de casa. Isto é princípio de realidade, e a criança deve se render a ele, caso contrário, tentará acomodar o mundo a seus caprichos e sofrerá muito, pois isto não será possível.
Quem opta pelo redutor, deve estar atento à necessidade de um apoio para os pés. Isto facilita muito a tarefa da criança por duas razões: a primeira é óbvia, ela se sentirá mais segura tendo um chão a seus pés (é comum a criança ficar insegura no vaso, pois ele é alto, tem um buraco e o que cai ali, desaparece!); e a segunda razão é fisiológica, o apoio plantar facilita para fazer força, o que é necessário para expelir o cocô.
Depois, começa a fase da estimulação, em que vamos perguntar se ela quer fazer xixi ou coco e incentivaremos o uso do penico/vaso. Nesta etapa, uma rotina estável para que a criança se localize no tempo e no espaço, roupas fáceis de tirar e lembretes a cada 20 ou 30 minutos são fundamentais.
Quando ela consegue, é interessante transformar em um acontecimento, afinal, para a criança, é um acontecimento, ela está vencendo mais uma etapa de seu desenvolvimento, mas o sucesso fica atrelado ao uso do banheiro e as escapadas são ignoradas, jamais castigadas.
Muitos pais me perguntam sobre o uso de “prêmios”. Costumo responder que isto fica a cargo da cultura de cada família. Não é necessário, mas também não causa prejuízos irreparáveis e é interessante se estar atento para que tipo de recompensa será oferecida. Quando a opção for premiar, evite balas, doces e presentes, pense em alternativas com valor simbólico, que alimentem o sucesso e façam a criança sentir-se valorizada. Lembrem-se, para uma criança, a companhia e o orgulho dos pais é o melhor presente!!!
Durante o aprendizado, podem ocorrer “acidentes”, ou seja, escapar xixi ou cocô e isso é considerado muito normal. Sendo assim, é imprescindível que sejam mandadas para a escola ou levadas em passeios roupas e calçados extras: mais calcinhas, cuecas, calças e bermudas, meias e sapatos. Calças, bermudas, saias e shorts com elástico facilitam a vida dos pais e das crianças nessa fase, pois as crianças mesmo podem tirá-las e meias e calçados extras são imprescindíveis porque o xixi costuma escorrer. Ainda, não se deve colocar fraldas nas idas ao shopping ou passeios (o que acaba sendo comum nesse período de adaptação), pois a criança ficará perdida recebendo informações contraditórias.
Um desfralde de sucesso depende, em primeira mão, da criança estar preparada, caso contrário, pode se transformar em um martírio para todos, além de afetar a autoestima da criança, que acabará exposta e poderá desenvolver sintomas ou distúrbios somáticos, como constipação. Nestes casos, o melhor é sem muitos discursos e teorias, colocar a fralda e não dar muita ênfase.
Outra coisa que vale destacar é que tanto na hora de colocar a fralda da noite quanto nas trocas de roupa pós-acidente, deve-se “desinvestir”, ou seja, não dar muita atenção para o momento, para o processo (ou seja, se antes ao trocar você conversava e transformava o momento em um momento de troca afetiva, agora você transforma o momento em algo sem importância). Isso para que a criança entenda que não é desta forma que ela terá a sua atenção. Entretanto, por outro lado, se ela pedir para ir ao banheiro a tempo, comemore e a faça-a se sentir a “última bolachinha recheada do pacote”.
A aquisição do controle noturno ocorre depois de alguns meses após o diurno, sendo que até mais ou menos 5 anos é normal que a criança urine algumas vezes na cama. Para facilitar este controle noturno é recomendado diminuir os líquidos antes de deitar e observar o horário em que a criança faz xixi e levá-la no banheiro durante a noite.
Quando o processo chegar ao fim, comemore com seu filho, ele está definitivamente crescendo e ampliando suas conquistas!
Raquel Suertegaray é psicóloga e mãe da Karol, de 10 anos, uma menina inteligente, esperta e linda que foi adotada aos seis anos de idade. Ela é formada pela PUC-RS e é especialista em Infância e Adolescência e em Avaliação Psicológica pelo Instituto Contemporâneo de Psicanálise e Transdisciplinaridade de Porto Alegre. Já trabalhou como psicóloga de abrigos infanto-juvenis e atualmente atua em consultório particular e como psicóloga escolar. Sob sua responsabilidade também está a Escola Pirlimpimpim de Educação Infantil, da qual é dona e diretora há dois anos.