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Entenda a fase da angústia (ou ansiedade) da separação

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Hoje, na coluna Psicologia, a Psicóloga Raquel Suertegaray fala da fase da angústia da separação, de como o bebê enfrenta esse desafio do seu desenvolvimento e de como a mãe pode agir para ajudá-lo a superar esse momento e crescer.

Excelente texto! Vale a pena a leitura.

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Photo Credit: NATEPERRO via Compfight cc

Entenda a fase da angústia (ou ansiedade) da separação

Por Raquel Suertegaray, Psicóloga

Hoje vamos falar sobre a ansiedade de separação, um fenômeno que pode fazer parte da normalidade, como uma fase do desenvolvimento da criança, mas também pode se estabelecer como uma patologia, trazendo sofrimento intenso e contratempos.

Prefiro sempre começar falando da vida real, ou seja, do que espera-se que aconteça e dos conflitos internos que podemos lidar e devemos passar e no próximo mês abordarei a ansiedade de separação quanto ela se torna um transtorno propriamente dito.

Faz parte da vida de todos nós sentir ansiedade em diversos graus e estes graus variam de pessoa para pessoa. São as diferenças individuais que dão as diversas tonalidades que fazem o mundo um lugar tão interessante, mas também fazem com que alguns sofram mais e outros menos ao longo do desenvolvimento.

É esperado que as crianças pequenas se sintam inseguras longe dos pais, o que costuma ser mais intenso em relação à mãe, por motivos óbvios – na nossa cultura, quem habitualmente estabelece uma relação mais estreita com o bebe é a mãe.

Devemos levar em conta que esta insegurança, provocada pela ansiedade de separar-se além de uma reação ao crescimento é, também, um mecanismo protetivo, pois é ele que dispara um alerta diante de estranhos e faz com que a maioria das crianças não vá com qualquer um e não se afaste deliberadamente dos pais.

Quando nasce, o bebe precisa do outro para sobreviver (tenho a sensação que escrevo isto em todos os meus posts, mas não tem como fugir se pretendo contemporaneizar as coisas) e também para sentir-se integrado. Um temor comum é que muito colo possa prejudicar, mas a verdade é que até os 3, 4 meses, isso não deixa os bebes manhosos, pelo contrário, oferecem um bem estar que colaborará para a formação de um bebe seguro. O contato corporal vai dando notícias dos limites corporais e integram os bebes, um bebe bem integrado, também é um bebe mais seguro.

A medida que se desenvolve de forma saudável, vai se percebendo como separado da mãe e esta percepção traz mudanças, tanto internas, quanto externas. Seu mundo ganha novas cores e novas emoções.

Esta mudança se torna mais significativa em torno dos 4 meses e evolui, chegando em média aos 6 meses meses a um momento de maior intensidade, pois o bebe já se percebendo separado, percebe também com mais clareza os afastamentos da mãe e começa a experimentar ansiedade quando ela sai do seu campo de visão. Ele reage e descobre assim que suas reações provocam reações no ambiente.

A medida que ele vai se descobrindo separado e percebe que suas reações fazem o mundo a sua volta se mover, aprende a tirar deste o que quer receber e usa este recurso, tão humano, para obter prazer permanente e eliminar a ansiedade que o desprazer provoca.

Neste momento, é importante que o meio, ou melhor, a mãe, se preocupe em transmitir doses homeopáticas de realidade, indo ao banheiro sozinha, tomando banho, se alimentando, mesmo que o bebe reclame (sua reclamação é o choro). Esta reclamação é provocada pela ansiedade de separação, mas ela, ao contrário do que se pode pensar, é estruturante.

É claro que não falamos de deixar o bebe chorando por horas, é claro que os afastamentos devem crescer de forma gradativa. Porém, desprazer é algo que devemos aprender a lidar e a suportar na vida e é cedo que isto deve começar, guardando as proporções adequadas. Estas esperas permitem que a criança se diferencie e crie sua identidade própria.

Perceber-se mais independente e descobrindo cada vez mais a grandiosidade do mundo deixa o bebe mais ansioso, afinal, quem não se sente assim diante das mudanças? Por volta dos 7, 8 meses esta ansiedade costuma se tornar mais intensa e observamos que os bebes reagem com mais intensidade aos afastamentos maternos, podendo apresentar mudanças no ritmo de sono também. É importante portanto, que as pessoas a sua volta a ajudem passar por isso e a lidar com estas mudanças, pois elas representam crescimento e o bebe precisa crescer, isso fará bem a ele.

Até pouco tempo a ligação da mãe e do bebe era muito estreita e é natural que ele reaja e reclame quando isto muda, pelas exigências da vida e pela maior capacidade do bebe para lidar com isso. Um exemplo concreto das mudanças é o fato de que ele já mama mais e por conseguinte pode ficar um intervalo maior sem mamar por exemplo.

A forma de reclamar do bebe é o choro e suas reclamações serão significadas de acordo com as respostas que receber do ambiente, pois são elas, em conjunto com as suas características pessoais que traduzem suas sensações e as transformam em “teorias”.

Pensem comigo, se o choro do bebe provocar culpa na mãe, ela vai lhe passar a mensagem subliminar que aquilo é algo inadmissível, porém, se por outro lado, ela acolher este momento de choro como algo natural, que vai passar, que ele pode suportar, ele vai receber a mensagem que o sofrimento acabou e que ele pode sobreviver a ele. Não subestime as percepções do bebe ao seu estado de espirito!

É fundamental que o bebe perceba que a mãe vai, mas volta, e isto desenvolve nele a certeza de que não será abandonado. O tempo deve crescer de forma gradativa mas o nível de sofrimento não deve se tornar exagerado, pois desta forma se tornará toxico.

Lembrem-se, também, que de modo geral, situações isoladas não costumam deixar marcas permanentes, a menos que sejam excessivamente traumáticas e se liguem a aspectos individuais, então, não se martirizem se um dia ou outro as coisas saírem dos conformes.

Atitudes como sair escondido, sem dar tchau, atrapalham a evolução deste processo, pois abalam a confiança que o bebe tem nos pais. O nível de ansiedade costuma estar ligado as experiências, ao ambiente e as características pessoais, e como tudo na vida, pode ser trabalhado e se modificar. Para melhor ou para pior.

Postergar o processo de individuação da criança para evitar a ansiedade não costuma ser positivo para a criança, pois cada fase deve ser vivida com suas conquistas e com suas perdas, é disso que é feita a vida. Segurança é um sentimento que se desenvolve pautado na confiança no outro e no mundo e não na superproteção que evita os sofrimentos normais da vida.

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