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Época da inocência x Fase pé no chão

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O título desse post já pipoca, há meses, na minha cabeça. Vira e mexe me pego pensando nele e prometendo vir aqui para sentar a bunda na cadeira e escrever sobre essa história antes que a inspiração passe.

Bom, “época da inocência” foi um termo que eu cunhei depois que o Leo nasceu e que diz respeito à minha primeira gestação, ao período em que eu sonhava com a maternidade mas o Leo ainda não tinha chegado. Como o próprio título diz, era uma fase em que eu era, vamos dizer assim, inocente. Não tinha uma real experiência sobre o que era ser mãe e aí me dedicava a coisas que nem eram tão importantes, me preocupava com outras que não faziam muito sentido e, acima de tudo, sonhava que tudo seria de um jeito para depois descobrir que, na verdade, aconteceriam de uma forma completamente diferente.

Diferencas entre a primeira e a segunda
Photo Credit: AP Photographie  via Compfight cc

Na época da inocência, eu não trabalhava. Estava cumprindo aviso prévio quando me descobri grávida e aí optei por não voltar ao mercado de trabalho naquele momento (afinal, quem iria contratar uma gestante?) e me dedicar a cuidar de tudo que envolvesse a chegada do Leo. Assim, eu planejei e executei tudo nos mínimos detalhes. Fiz a lista do enxoval com a ajuda de amigas, pesquisei tudo na internet antes de comprar, fui fazer o enxoval fora, organizei o chá de bebê, fiz a decoração do chá de bebê, fiz até alguns doces do chá de bebê. Na primeira gestação, também planejei como seria a decoração do quarto e executei várias coisinhas que enfeitaram o quartinho do Leo (quadros, almofadas, detalhes da cortina, etc…) e também cuidei pessoalmente das coisas que servi e das lembrancinhas que dei na maternidade. Tudo combinando, tudo lindo, harmonioso e cheio de carinho e atenção.

Nessa época, eu perdia horas e horas de sono preocupada se os doces do chá de bebê iriam mesmo agradar, se o quadrinho da porta do banheiro combinaria com o porta trecos que estava pendurado do outro lado quarto e se a décima quinta lembrancinha escolhida seria mesmo a ideal para eu entregar para as visitas da maternidade.

Nessa época, eu também tinha tempo para caminhadas diárias, para levantar as pernas algumas horas durante o dia, cuidar da minha alimentação nos mínimos detalhes e tentar ter oito horas de sono diárias (eu tentava, nunca conseguia porque ficava ansiosa pensando em tudo e perdia o sono).

Posso dizer que essa foi uma fase edílica, quase que de sonho, que toda gestante deveria ter o prazer de experimentar, pois a gente consegue realmente experimentar a gestação e vive-la na sua plenitude. Eu fui muito, muito, muito feliz nesse tempo, pois tinha tempo para tudo, e nem sonhava ainda com os perrengues que estavam por vir.

Mas aí o Leo nasceu, eu descobri, de verdade, o que é a maternidade, engravidei de novo, e chegou a vez de gestar o Caê.

Nesse ponto, sai a “época da inocência” de cena (na verdade, ela já tinha saído há muito tempo) e entra em cartaz a fase “pé no chão”.

Nessa gestação, não tenho tempo para nada. Eu cuido do Leo quando ele não está na escola, administro a casa (ok, também fazia isso antes) e trabalho feito uma doida insana aqui nesse blog (que na outra gestação só foi criado quando eu estava de 8 meses). Nessa gestação, o chá de bebê é assunto tão importante que ainda nem decidi se irei fazê-lo mesmo ou não e a decoração do quarto começou a ser pensada somente há poucas semanas.

Quando alguém se espanta por eu ainda não estar cuidando dessas coisas, eu só digo que o mais importante a gente já tem, que é o teto sobre a cabeça e os móveis para guardar as coisas e colocar o Caê para dormir e que a decoração em si é bacana sim, com certeza, mas a gente também vive sem.

Além do mais, em vez de surtar fazendo a lista mais completa do mundo para depois viajar para o exterior para comprar tudo lindo, bonitinho e moderninho, dessa vez eu vou aproveitar tudo que dá e que era do Leo e aceitar todas as doações que as minhas amigas puderem fazer. Reciclagem e sustentabilidade viraram as palavras de ordem por aqui.

Acho que o que muda do primeiro para o segundo filho não é que não temos mais preocupações, mas simplesmente que elas mudam de foco. Se na gestação do Leo eu me preocupava com o chá de bebê, a decoração do quarto, as peças do enxoval combinando, dessa vez eu me preocupo muito mais com a organização da minha rotina para dar conta de dois filhos, com a necessidade de atenção para o mais novo sem abandonar o mais velho, os cuidados com o meu descanso no meio disso tudo e, principalmente, em manter as coisas sob perspectiva para garantir a sanidade e a sobrevivência da família.

Não quero aqui, de forma alguma, dizer que mãe que se preocupa com os detalhes divertidos e gostosos da chegada de um bebê é fútil ou desocupada. Eu mesma vivi isso plenamente, me realizei curtindo tudo isso e até comentei acima que toda grávida deveria ter o direito de viver essa fase plenamente, pois é muito gostosa. Só quero dizer que quando uma criança chega já existindo na vida da gente a experiência de um primeiro filho, tudo muda de figura, e passamos a ter muito mais os pés no chão e a nos preocuparmos com aquilo que importa de verdade.

Hoje, sei que o meu sono é precioso e não o perco preocupada com lembrancinha de maternidade (até porque estou tão morta que não há lugar para insônia). Hoje, eu sei que tanto faz a se calça combina com o body ou não, o que vai importar mesmo é eu conseguir amamentar, o Caê ter cólicas amenas (nem sonho com ele não as tendo), o Leo não sofrer muito de ciúmes e eu conseguir dar conta de tudo sem pirar na batatinha e sofrer de exaustão. O resto, é simplesmente o resto.

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