Você já passou por aquela situação em que as pessoas olham para você como se você fosse uma monstra e o seu filho um coitado? Eu já vivi isso várias vezes, e uma delas foi hoje.
Vou explicar para vocês o que houve.
Estamos vivendo, aqui em casa, um momento delicado. Juntou a loucura das férias do filho com a insanidade de mudar de endereço, então, está tudo de pernas para o ar e quase todos os armários vazios. Assim, hoje tive que ir ao mercado, porque simplesmente não tinha mais nem arroz para cozinhar. Como não tinha com quem deixar o Leo, lá fui eu bem corajosa com o pequeno junto, mas já preparada para o que estava por vir.


Nossa experiência durante a colocação das coisas no carrinho até que foi tranquila (ele foi “dirigindo” o nosso carinho de compras), o problema foi na hora de passar pelo caixa.
Chegando próximo ao caixa, já vi meu pequeno correndo com os olhinhos acesos e a sua vozinha estridente gritando “mamãe, mamãe, óia!”. Eu, que já sabia o que era, peguei o caminho de outro caixa, mas ele se manteve irredutível e parou em frente ao caixa que tinha aquelas malditas balas num tubinho com um bichinho da Disney em cima (PS: cadê aquela lei que acabou de ser aprovada e que proíbe o uso de imagens apelativas para crianças em diversos produtos de consumo? Cadê? Cadê? Quero saber!). Eu estacionei o carrinho de compras no meu caixa e me dirigi ao caixa onde o Leo se plantou (exatamente ao lado do meu). Lá, desci à sua altura, olhei nos seus olhos e expliquei: “Filho, eu sei o que você quer, é a balinha do Pateta. Mas a mamãe não dá balinha para você. Quem dá balinha para você quando você vai ao mercado é a vovó, então, da próxima vez, peça para ela. Eu não vou dar. OK?”. Nisso, abriram-se as comportas de Itaipú, com toda a sua força sonora e aquosa. O Leo começou um show digno a teste para ator mirim de Malhação e conseguiu captar a atenção de metade das pessoas que estavam no mercado (só quem estava na parte dos laticínios e açougue que eu creio que não ouviu, pois era ficava muito longe).
Eu, em vez de ficar batendo boca com ele, insistindo, pedindo pelo amor de Deus para ele parar com o escândalo (ou então, pior, ceder e entregar a maldita bala da discórdia), fui até o meu caixa e comecei a tirar as coisas do carrinho. Com toda a calma e paciência que não me são naturais. A cada cinco itens que eu tirava do carrinho, dava um passinho, olhava para ele e pedia para ele vir até mim, mas não tinha jeito, ele estava determinado e gritar até que o Pateta e o seu tubo de bala resolvessem pular da gôndola direto na boca dele.
Nisso, aquela metade do mercado que olhava para o Leo já tinha dirigido os olhos esbugalhados de indignação para mim, e eu fiquei lá, com aquela cara de tacho, de quem sabe que está fazendo o certo (falei, expliquei e não ia ficar dando corda para o show), mas também sabe que todo mundo pensa que é uma louca, malévola e sem coração.
Depois de uns dois minutos de muito berro e sem ser atendido, Leo resolveu desistir de suas insanas tentativas de me convencer a dar para ele balinhas e correu até mim, agarrou a minha perna e pediu colo. Eu, como se não tivesse acontecido nada, dei, paguei a conta e saí empurrando o meu carrinho feliz e tranquila, pois sabia que independente do que os outros estivessem pensando, eu tinha feito aquilo que achava o certo.
E saibam vocês que não foi a primeira vez que eu tive que encarar olhares e até discursos que diziam claramente na minha cara “ai, coitadinho dele” como se, do jeitinho que eu disse lá no início, ele fosse um coitado e eu uma bruxa.
Uma das vezes foi quando contei para uma desconhecida que o Leo iria para escola. Contei toda feliz e ela me solta “Mas coitadinho, tão novinho, por que você vai fazer isso tão cedo?”. Na hora, não me segurei e devolvi sem meias palavras: “Coitadinho por quê? Passei semanas visitando e escolhendo uma boa escola para ele ficar. Fui lá, conversei com a coordenadora, fiz um interrogatório quase assustador, analisei todos os prós e contras e tenho certeza que ele ficará num ótimo lugar. Além disso, passo horas e horas do meu dia me dedicando a cuidar dele, a dar atenção, carinho, afeto e proteção e ele não é, definitivamente, uma criança largada. Coitadinho de quem gostaria de ter uma boa escola para ir, um lugar seguro para ficar, pessoas preparadas e carinhosas para cuidar. Desses sim é que tem que ter pena”.
E a outra vez que tive que encarar aquela situação “ai como você é má” foi quando disseram que o Leo era um coitado porque eu não o deixava comer doces, sendo que nem um aninho ele tinha ainda. Como se ele não tivesse uma vida inteira para comer doce e como se ele estivesse passando fome por não comer porcarias. Ah, me poupem, né!
Enfim, esse post de hoje é para dizer que está assim de gente pronta para apontar o dedo na nossa cara dizendo que nossos filhos são uns coitadinhos e nós somos umas cobras más. Mas essas pessoas sequer param para pensar que muitas das vezes que estamos sendo “más” estamos simplesmente tentando educar, ensinar a ter bons modos, não reforçar comportamentos inadequados, dar bons exemplos, criar bons hábitos e por aí vai.
O Leo não é um coitado por não ser atendido quando está errado (lembrando que eu sempre explico o motivo do pedido dele não ser atendido), nem por não ganhar uma bala tampouco por ir para uma ótima escola. E toda vez que alguém me olha com uma cara feia ou solta algum comentário chato de se ouvir eu simplesmente me agarro à certeza de que estou simplesmente tentando fazer o melhor para o meu filho.