Como escolher o momento certo para engravidar? Acredito que além dos fatores físicos, precisamos pensar também em nossa codição emocional. Afinal, ter um filho é uma decisão para a vida toda. Uma realização pessoal que, embora não nos impeça de nada, exige muita entrega de nós.
Mas qual é a idade mais adequada para nos jogarmos de cabeça nesse projeto de vida? Como passar por essa experiência de forma saudável física e emocionalmente?
Nesse post, nossa colunista Dra. Maria do Carmo, compartilha conosco sua opinião profissional sobre o tema.
O momento certo para engravidar
O IBGE tem mostrado em suas publicações que as mulheres brasileiras estão tendo menos filhos do que há 10 anos, o número de crianças nascidas por mulher diminuiu, enquanto aumentam proporcionalmente os registros de nascimentos em mulheres de 30 a 39 anos. Esta é, aliás, uma constatação global. Os indivíduos jovens, homens e mulheres, retardam em sair de casa, têm neste momento, principalmente, dificuldades claras em entrar no mercado de trabalho, desejam se aperfeiçoar mais e progredir em suas carreiras, buscam outras prioridades antes de buscar filhos. Sinais de que a própria estrutura social mudou.
Existe este momento certo, as pessoas estão corretas em ficar tentando agendar a gravidez? Na verdade o que vemos é uma indefinição por parte dos homens e das mulheres, e este momento ideal não chega. Porém, o que não tem sido levado em conta é que a Biologia, o ciclo da vida. O tic tac do relógio biológico tem outro ritmo e não segue o planejamento matemático e as contas de um casal. No homem a produção dos espermatozoides se renova a cada 65 dias e a passagem do tempo biológico é mais sutil, embora hoje também se defina que a partir dos 40 anos este tempo de vida englobe tudo aquilo a que ele tem sido exposto, com potenciais consequências negativas para a sua biologia.
Já nas mulheres os prazos são bem mais complicados: uma mulher nasce com cerca de 1 a 2 milhões de óvulos, eles são o seu capital, que vai se distribuir ao longo de sua vida, até a menopausa. Quando a menina chega na puberdade, já são em torno de 300 mil pelos processos fisiológicos de desgaste que vão ocorrendo durante a infância. Estima-se que uns 300 ou 400 serão aqueles que, durante os seus anos de possibilidade reprodutiva, espontaneamente poderiam ser preparados para ovular e receber um espermatozoide. A questão final é que eles vão sendo utilizados, esta reserva vai diminuindo e os óvulos terão sempre, biologicamente, a idade de sua portadora.
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O ponto mais crucial deste conhecimento é que esta qualidade dos gametas (óvulos e espermatozoides), se reflete diretamente na hora da formação dos embriões, quando o núcleo das células- óvulo e espermatozoide se fundem, gerando um embrião. Seja na gestação que ocorre em casa, espontaneamente, seja numa fertilização que esteja sendo promovida no laboratório (in vitro, como chamamos). Informações erradas podem interferir diretamente na qualidade do embrião. É como se instruções falhassem, como se faltassem linhas, páginas, capítulos de uma receita importante, de um bebê, que não pode ser bem concluída!
Assim, a qualidade dos embriões formados vai caindo com o tempo, explicando porque a idade das mulheres (a partir de 35 anos) e dos homens ( a partir de 40anos) vai interferindo negativamente, de forma gradualmente mais importante. Estas alterações resultantes, chamadas medicamente de aneuploidias, correspondem a alterações de número ou forma dos cromossomos. Lembrar que cada um de nós tem 23 pares destes cromossomos, numerados de 1 a 23. O par 23 , XX ou XY, define o sexo do indivíduo e se as quantidades não estão adequadas, temos grande parte das explicações de não engravidar, de abortamentos precoces espontâneos, de ultrassonografias com presença do saco gestacional sem embrião, do batimento do coração que para subitamente, de alterações outras maiores ou menores, que podem ainda ser incompatíveis com a vida ou definir algumas doenças ou síndromes. Quem ainda não ouviu uma história parecida na família ou com amigos, bem menos comum nas idades mais jovens?
Para engravidar, também é importante manter estilo de vida saudável, cultivar uma boa alimentação, evitar álcool principalmente em excesso, fumo, drogas lícitas e, principalmente, as ilícitas.
Embora uma mulher esteja menstruando, isto não avalia a qualidade de seus óvulos, que hoje tem dois grandes marcadores a serem considerados numa atitude preventiva:
1. O primeiro deles, fácil de ser estimado numa ultrassonografia transvaginal, é uma simples contagem dos folículos antrais, ou seja , aquelas bolas pretinhas que aparecem nos ovários a cada ciclo, avaliadas entre 2 a 5 dias a partir do início de uma menstruação, esteja a mulher ainda sangrando ou não. A contagem esperada, pelo menos 6 em cada ovário, reflete a distribuição que o organismo está fazendo, em cada mês, da quantidade de potenciais óvulos presentes.
2. O segundo é um exame de sangue em que se avalia um hormônio denominado AMH ou Hormônio Anti-mulleriano, considerado o marcador mais fiel. Pode ser colhido em qualquer período do mês, não precisa jejum, mas requer que a mulher não esteja usando anticoncepcional hormonal por pelo menos 60 dias e não esteja tomando produtos com biotina. Os planos de saúde frequentemente se recusam a autorizar este exame, o que é uma pena. É um exame simples que pode ajudar muito às pessoas que precisam ser aconselhadas. Os ginecologistas sabem que podem usar ouros recursos hormonais, como a dosagem do FSH, hormônio hipofisário que estimula os ovários mas a grande questão é que este quando começa a apontar uma mudança nos dias iniciais de um ciclo, a situação já se complicou para a mulher.
Conversar sobre planejamento da gravidez é, portanto, a mensagem do dia. Conversa entre parceiros, conversa com o ginecologista, com o médico de confiança, tão importante quanto planejar a anticoncepção. Penso que em algum momento, entre 28 e 32 anos, toda mulher deveria checar o AMH e a sua contagem de folículos antrais, mesmo se tiver que aproveitar ou planejar um intervalo de sua contracepção.
A medicina reprodutiva e a tecnologia têm acompanhado as evoluções das sociedades e suas demandas. Hoje óvulos podem ser congelados e assim ficarem por período indeterminado, à disposição da mulher, preservando aquele “tempo” precioso, com o relógio biológico interrompido no momento da preservação. É um modo de se utilizar a tecnologia a favor da vida e de um sonho.
Este procedimento, a criopreservação dos óvulos, se faz mediante uma estimulação dos ovários por período de 8 a 10 dias, com o uso de medicações de uso subcutâneo, que tem por objetivo fazer com que haja um bom aproveitamento de folículos designados pela natureza para aquele ciclo de tratamento. Ao invés de um folículo que cresce no ciclo natural, assume a dominância do processo e chega sozinho no momento da ovulação, queremos vários crescendo, vários dominantes. São os folículos que crescem e assumem esta dominância os que podem conter os óvulos que estamos buscando.
Anos atrás, havia a necessidade de se esperar cada início de menstruação para também se iniciar um estímulo sobre os ovários. Hoje aprendemos que a natureza e as medicações que utilizamos nos permitem antecipar o início dos estímulos e aproveitar ao máximo os intervalos de tempo, quando o tempo é escasso e precioso para conduzir a coleta dos óvulos. A coleta se faz sob uma sedação leve, em ambiente cirúrgico e sob um grande cuidado ambiental, para segurança da paciente e de seu material biológico.
No Brasil, todas as clínicas que trabalham nesta área devem seguir as orientações do Conselho Federal de Medicina (a última Resolução é a CFM nº 2.168/2017), assim como são fiscalizadas pela ANVISA (seguindo normas que avaliam os requisitos de segurança). Muitas das clínicas brasileiras são também certificadas internacionalmente pela Rede Latinoamericana de Reprodução Assistida (REDLARA), instituição científica que agrupa mais de 90% dos centros da América Latina. As demandas por criopreservação são crescentes. De 2015 a 2017 foram reportados 8.166 ciclos de criopreservação de óvulos, com um aumento de 38% desde 2015 (fonte do Registro Latino Americano- REDLARA).
Podemos pensar hoje em três hipóteses para se efetuar um congelamento de óvulos:
1. A primeira hipótese é quando há um diagnóstico inesperado de uma doença oncológica, atingindo paciente jovem e ainda sem filhos. Para manter esta possibilidade de projeto, rapidamente se conversa com o cirurgião, com o oncologista, se ouve a pessoa, a família e se tudo certo na estimulação, em 10 a 12 dias se chega à coleta de óvulos. Estes casos são muito importantes para as pacientes, pois se está falando e planejando um “depois” e muitas vezes a quimioterapia que se segue a um tratamento poderia ser extremamente adversa para os óvulos.
2. A segunda possibilidade, ainda por um a razão médica, se referem às doenças não-malignas, mas que poderiam afetar os ovários na evolução ou no decorrer dos tratamentos. É o caso de situações em que os ovários podem ser comprometidos cirurgicamente, por exemplo.
3. Por fim, a indicação que é, sem dúvida a mais frequente, é a chamada Social, representante perfeita dos tempos que vivemos. São pessoas saudáveis, mas com receio de “perder” a oportunidade. São muitas vezes financeiramente independentes, otimistas, mas vivem o tempo presente, pensam em tentar gestar espontaneamente em algum momento, mas não querem se arrepender tardiamente de ter se omitido ou ignorado a passagem do tempo. A maioria tem um projeto idealizado de parceria nesta construção familiar, seja uma família tradicional, pai, mãe, filhos ou mesmo um projeto novo como uma família com 2 mães. Mas, até mesmo a possibilidade de família monoparental (a produção independente) está considerada, se chegar o momento certo.
No caso de não haver o parceiro, a realidade é a opção por um banco de sêmen, que da mesma forma é subordinado a normas e registros no pais.
A questão fica, portanto, em prestar o mais completamente estas informações às jovens e também a seus companheiros de mesma idade, ou até aos pais ou responsáveis (quando de crianças), conscientizá-los de que escolhas devem ser feitas, prioridades de vida e constituição familiar devem ser estabelecidas.
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