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O nascimento e os sentimentos despertados

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O texto abaixo foi publicado na seção Confessionário, do site www.bebe.com.br. Hoje compartilho com vocês aqui!
O nascimento e os sentimentos despertados
Certa vez, li que se engana quem pensa que assim que um bebê nasce o primeiro sentimento que surge em uma mãe é o amor. Na verdade, o primeiro sentimento é o de alívio. Alívio por ter tido um filho saudável, alívio por ter corrido tudo bem no parto, alívio por poder dormir de barriga para baixo de novo (ok, talvez esse seja um sentimento específico meu).
Pois vou continuar a primeira frase aí de cima e dizer que engana-se quem pensa que a segunda coisa que sentimos é amor. Na verdade, é choque. Isso, principalmente quando se trata do primeiro filho.
Você está em choque por ouvir isso, mas é a mais pura verdade.
Enquanto estamos na maternidade, corre tudo bem. Tem dezenas de profissionais tomando conta da gente e outra infinidade cuidando do bebezuco que acaba de dar a caras. Somos paparicadas de todos os lados. Nem trocar fralda precisamos, se assim não quisermos. Mas aí vem o dia de ir embora e quanto mais nos aproximamos da porta de saída daquele oásis de segurança, mais inseguras nos tornamos.
Lembro até hoje que, assim que entramos no carro, para trazer aquela trouxinha para casa, me bateu um medão enorme. Choque! Estávamos carregando a coisinha mais valiosa e importante do mundo e encarando o trânsito caótico de São Paulo. Quanto medo senti naqueles minutos que separavam o hospital da nossa casa.
E chegando em casa, então! O negócio ia ficando mais feio ainda. Meu marido trazia nos braços o bebê conforto e, assim que adentramos o apartamento, nos perguntamos onde colocaríamos aquele pacotinho. Choque! No quarto? Não! Eu não queria deixá-lo sozinho. Em cima da mesa? Não! Muito estranho. Em cima do sofá? Ok, em cima do sofá parecia uma alternativa viável, afinal, ficaria à vista dos nossos olhos.
Essa primeira refeição, com o novo integrante da família em casa também foi estranha. Choque! Não sabíamos se mantínhamos o mesmo tom de voz de sempre ou se deveríamos reduzir os decibéis para não acordar o serzinho que estava ali, sobre o sofá.
E quando ele acordasse? O que faríamos? Apresentaríamos a casa? Daríamos um banho? Eu daria o peito? Bom, tentaria, mas não sabia se iria funcionar, porque meu leite ainda não tinha descido, apesar de já ter se passado quatro dias desde que o Léo havia chegado. Choque, choque, choque ao cubo!
E assim vai! Um choque atrás do outro! O primeiro banho, todo atrapalhado, o bichinho gritando de frio. Choque! À noite, ele berrando de fome e o leite que teimava em não descer. Marido tendo que sair correndo para comprar leite em pó porque não dava mais para esperar. Choque, desespero e tristeza.  A rotina, mostrando-se na prática muito diferente da teoria. Choque. O primeiro dia que você pensa em sair de casa para ir à farmácia da esquina, comprar fraldas, e percebe que perdeu o direito de ir e vir quando quiser. Choque! E por aí vai…um pequeno choque atrás do outro. Até que a gente fica curtida e as coisas vão tomando uma forma mais natural.
Mas e o tal do amor? Quando é que vem? Ah, esse já chegou há muito tempo. Ele apareceu no dia que você leu positivo no exame de gravidez. E só foi crescendo. A questão toda é que assim que aquilo que estava dentro veio aqui para o lado de fora, junto com ele veio uma descarga descomunal de hormônios, um turbilhão de novas sensações (você já pensou o que é ter um ser dentro de você e no instante seguinte não tê-lo mais???)  e uma penca de noites maldormidas. Isso tudo mexe, e muito, com a gente. E tudo isso faz com que, pelo menos por um tempo, o amor fique um pouco ofuscadinho pelo tal do choque.
Só que aí as coisas vão tomando o seu lugar. A poeira vai baixando. A gente vai percebendo que aquele serzinho é, sim, a coisa mais importante e valiosa do mundo, mas que ele não é de cristal e não vai se desmanchar ao primeiro passeio de carrinho pela rua. E é quando a gente relaxa (coisa que às vezes é difícil quando se tem muito amor) que se consegue sentir de verdade o amor que ali sempre existiu.
Será que consegui ser clara? Sei lá… Talvez eu ainda esteja um pouco em choque!

 

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