Quem me conhece bem ou acompanha o blog sabe do meu desejo por ter o Léo de parto normal. Eu já havia comentado isso aqui antes. Pois quis o destino que o meu desejo fosse atendido, para minha imensa alegria.
Eu tive o Léo de parto normal no dia 22 de maio, às 23h08minutos, depois de pouco mais de três horas de trabalho de parto e de quase tê-lo no caminho para a maternidade, por conta do rodízio do carro do meu marido.
Na madrugada anterior ao nascimento do Léo tive um sangramento mais expressivo. Fiquei assustada e corri para o pronto socorro. Lá fui informada de que já estava com três centímetros de dilatação e de que teria o Léo naquele dia. À tarde, fui no meu obstetra, o qual me examinou e confirmou: “It`s gonna be tonight”. O aviso foi dado cantando uma musiquinha que tem esse refrão e que nem imagino qual seja. Ele ainda complementou: “Vá para casa, ligue para seu marido, peça para ele ir para casa também e deixem tudo pronto. Quando as contrações chegarem a três em três minutos, vá para o hospital e me ligue”.
Fiquei tranquila, esperando o tempo passar no sofá da sala, mandando alguns e-mais e recebendo vários telefonemas. Anotava o tempo de intervalo entre cada contração e ele girava em torno de 8, 9 ou 10 minutos.
Quando era umas 19h, fui tomar banho e me preparar. Quando saí do banho o bicho pegou. As contrações ficaram mais fortes, mas ainda não eram de três em três minutos, então eu achava que ainda não era hora de ir para o hospital.
Não sei o que me deu, que santa calma e serenidade baixou nesse poço de ansiedade aqui, mas eu seguia achando que ainda não era hora de ir. Até que deu 19h40min e meu marido disse: “Agora chega, vamos para a maternidade”.
Dentro do carro, as contrações passaram a ser de cinco em cinco minutos e dolorosíssimas. Pedi para ligar para o médico e avisar de novo que já estávamos à caminho e que era melhor ele ir logo. Algo me dizia que tudo ia ser muito rápido. Eu não estava errada.
Chegando no hospital eu já não conseguia nem andar. A impressão que eu tinha é que cada contração durava três minutos, com intervalo de um. E não o contrário.
Fui levada para atendimento, fui medicada e passamos a esperar pelo meu obstetra e pelo anestesista. Meu obstetra chegou rápido, mas seguimos esperando, e esperando, e esperando, e esperando pelo anestesista. Para meu azar, o anestesista que deveria fazer o meu parto adoeceu e tiveram que encontrar outro médico da equipe.
Sofri horrores com as contrações. Posso afirmar com 100% de certeza que foi a dor mais dilacerante que já senti na vida. Quase arranquei a mão da minha mãe e do meu marido fora e eu, que jurei que não gritaria de dor, para não fazer feio no hospital, me vi urrando de desespero. Mas assim que anestesia foi feita, o mundo era outro. Eu já conseguia rir e fazer piada da situação.
Às 22h40min, fui levada para a sala de parto. Lembro do meu obstetra me perguntar: “Está pronta?” e eu responder “E tem outra alternativa?”. Acho que foi nessa hora que o medo baixou, de verdade. Na sala de parto lembro de sentir uma pressão forte no baixo ventre, do médico assistente dizer que já via a cabecinha do Léo e do meu obstetra me orientar a fazer força assim que ele avisasse que uma contração havia chegado.
Fiz força na primeira contração e nada. Fui estimulada pela equipe que repetia: “Muito bem! Perfeito! Siga fazendo isso! Falta pouco!”. Na segunda, fiz força duas vezes apenas, e o Léo já veio ao mundo. Na primeira força que fiz senti a cabecinha dele sair, na segunda, o corpo. Jamais vou esquecer essa sensação. Acho que levou uns dois segundos até que ele abrisse o berreiro, o que me deixou apreensiva, apesar de ter lido milhares de vezes que é assim mesmo. Mas quando ele resolveu abrir a boca, tive certeza de que o pulmão do bichinho estava 100% maduro. Que força e que saúde!
Logo em seguida ele foi colocado sobre meu peito e eu beijei seu rostinho. Lindo! Perfeito! Dali ele foi levado para ser pesado e fazer o teste APGAR e eu vi a cara de alegria e emoção da minha mãe, minha sogra e meu sogro, que assistiam os finalmentes da janelinha da sala de parto. Meu marido não cabia em si de tanta felicidade e filmava e fotografa tudo. Nessa hora, todos só tinha olhos para o Léo e eu só tinha vontade de tê-lo nos meus braços de novo, para tocá-lo, acariciá-lo e mostrá-lo todo meu amor.
Eu consegui ter o parto normal que tanto desejei, apesar do Léo ter demorado para encaixar e eu achar que isso já não seria mais possível. Eu sofri, por mais de duas horas (sorte a minha, porque tem gente que sofre por 12!) as piores dores que já senti na vida, mas faria tudo isso de novo, pois a emoção de colocar no mundo um filho de forma natural é indescritível. Além disso, minha recuperação foi incrível! Não tive dor nenhuma no pós parto e uma semana depois já sentia como se meu parto tivesse sido há um ano atrás. Meu corpo também voltou à forma de antes em apenas 10 dias!
Sei que não sou o padrão, que meu parto foi muito mais rápido e tranquilo do que os partos de 99% das mulheres, mas mais do que nunca eu levanto a bandeira do parto normal. É algo que mexe com nossas entranhas, literalmente, que nos faz sentir fortes, poderosas e invencíveis.
Num país onde mais de 80% das mulheres tem filhos através de cesárea na rede privada de hospitais, muitas vezes indo contra seus próprios desejos (seja por conta do corpo não ter permitido ou devido a obstetras que as induzem a isso), ter um filho de parto normal faz de mim quase uma heroína. Isso pode parecer exagero, mas garanto que foi exatamente assim que me senti depois de parir o Léo exatamente da forma que eu sempre desejei.
Não posso, claro, também achar que o mérito é só meu. Tenho certeza absoluta que isso não seria possível se não fosse o trabalho maravilhoso do meu obstetra, dr. Fábio Lopes Teixeira Filho, que é outro defensor ferrenho do parto normal. Durante todo o tempo que fui atendida por ele, ele não permitiu, nem por um instante, que eu deixasse de acreditar que conseguiria. Mesmo quando o desespero de saber que o Léo ainda não tinha encaixado baixou sobre mim, ele soube usar as palavras certas e me trazer tranquilidade para esperar. Se mais médicos tivessem essa sensibilidade e profissionalismo, certamente, teríamos outra realidade e, muito provavelmente, muito mais mulheres sentindo-se heroínas, por pelo menos um dia.
Felicidade infinita de ter meu filhote em meus braços. |