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Uma reflexão sobre a cama compartilhada

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Olá mamães, o texto de hoje é sobre um assunto polêmico – cama compartilhada – e quem escreve sobre ele é a Thaiz Carvalho, mãe de um casal e psicóloga clínica. Thaiz optou por fazer cama compartilhada com seus filhos e hoje faz uma reflexão sobre essa experiência. Confira!

Photo Credit: csm_web via Compfight cc
Photo Credit: csm_web via Compfight cc

Ai que delícia!

Por Thaiz Carvalho

Ontem à noite, na hora que fomos dormir, Miguel deitou no meio de nós dois, puxou a coberta ate o pescoço e disse:- “AI QUE DELICIA!!

Meu marido olhou sorrindo para mim e logo “lascou” um beijo no loiro que, com muita carinha de satisfação, estava ali. MUITA SATISFAÇÃO, para todos nós, pois, existe palavra melhor do que ouvir de um filho que está uma delícia estar ali com vocês em uma noite fria como aquela?

Este é um tema recorrente que as mães trazem ao consultório (sou psicóloga) e amigas me perguntam. Qual é a opinião do psicólogo em relação ao filho dormir no meio dos pais?

Vou tentar fazer uma mescla de teorias que tenho lido sobre o assunto, somando a minha experiência da maternidade e ver o que dá.

A minha intenção aqui não é defender NENHUMA opinião, ate porque não acho este o melhor caminho para nada, mas sim proporcionar uma reflexão sobre o tema para assim a própria família decidir como proceder com isso.

Se você pesquisar no Google o tema “cama compartilhada”, verá que a maioria dos especialistas salientam vários pontos que não são saudáveis nesse tipo de experiência e acho bacana expô-los aqui.

Alguns pediatras relatam que o bebê pode ser  “lesado”, no sentido fisico, caso o pai ou a mãe não percebam e, involuntariamente, o sufoquem. Isso é algo seríssimo, pois proteger nossos filhos é a nossa mais importante função na vida. Então, para evitar isso, comprei um mini berço da marca Snoogle, que  protege o bebe de nós mesmos. Esse “berço” era colocado entre nós, com o bebê dentro, até eles terem, mais ou menos, 4 meses. Assim, podíamos todos dormir juntos, sem medo.

Outro ponto colocado é que o sono do casal fica prejudicado. Isso e de fato MUITO real. Os bebês se mexem e, automaticamente, os pais ficam suscetíveis a acordar e piorar a qualidade do sono. Com meu filho de 2 anos, há episódios de joelhadas que, de fato, me fazem acordar. Quando isso ocorre com maior frequência, peço ao meu marido que o coloque na caminha dele, no quarto dele, e lá ele fica, sem problema algum. E também tem as situações em que ele coloca a mãozinha no meu rosto e também atrapalha, me faz acordar, mas logo me sinto a mãe mais amada do mundo com esse carinho e os cutucões ou o desconforto se tornam tão pequenos diante de tal gesto.

Para quem está amamentando , não tenho dúvidas de que ter o bebê no meio da cama colabora, pois não há o deslocamento de ir e vir para dar as mamadas. E esta também é uma justificativa que eu encontrei para “aliviar a culpa” de ter a minha filha dormindo em nossa cama (ela esta com 6 meses e ainda acorda para mamar). Também é importante salientar que ela SIM,  acorda por causa do meu cheiro e tumultua o nosso sono e o dela. Mas aí, na maioria das vezes, nós a colocamos em um bercinho, ao lado da nossa cama, e pronto, o problema do cheiro está resolvido e todos voltamos a dormir melhor.

Li também algumas vezes que os pais tendem a fazer isso para suprir a ausência do dia, por estarem ocupados e assim conseguirem ficar mais perto dos filhos à noite. E isso é errado? Acredito que possa sim haver esta compensação, afinal, o mundo de hoje requer que os pais trabalhem, e muito, para darem uma vida confortável aos filhos. E aí eu pergunto: algum problema em compensar a ausência do dia estando coladinho e dando muito carinho à noite? De poder “gozar” deste delicioso momento com seus filhos após um árduo dia de trabalho? Eu acredito que não.

E falando em gozo, esta aí o tema que acredito ser o mais importante em toda esta polêmica de deixar os filhos dormirem na cama dos pais. E as relações sexuais? E o namoro com o marido? E o dormir de conchinha? E os pés colados? E aí, como fazer se há bebês no meio? Enfatizo este como o principal ponto para se “reorganizar” nessa fase. Tirar o bebê da cama e namorar o marido não é uma possibilidade? Irem para outro ambiente e também namorarem criando novidades para a relação é inviável? É regra este bebê estar ali todos os dias e todos os momentos? Claro que nao! A sugestão é que o casal converse sobre isso e perceba que é possível sim também namorar e que a culpa não é dos bebês caso eles estejam distantes sexualmente. Logo, fica a dica para estreitar ainda mais com seu marido a possibilidade de conversarem sobre a intimidade que, diga se de passagem, é extremamente importante para o casamento.

Não posso deixar de citar também a questão da dependência, que acaba sendo um dos pontos mais levantados quando se fala em filhos dormindo com os pais. Um filho é sim dependente do pai e da mãe até ele conseguir se sustentar financeiramente e realmente ter “crescido”. Aliás, assunto este que possivelmente gerará polêmica, pois só não estamos dependente emocionalmente dos nossos pais a partir do momento que eles não estiverem mais por aqui. E olha que, mesmo assim, ainda dependemos das experiências emocionais que ficam na gente, através da relação materna e paterna.

O que quero trazer, em resumo, é que não enxergo peso nenhum em crianças dependerem dos pais. Isso é saudável. Depender de alguém pode nos dar segurança e menos ansiedade de querer crescer depressa e, depois, vai fazê-la ir “embora” segura, para viver em um outro espaço. Ou seja, ter de quem depender é algo necessário, ate porque a criança não nasce pronta para dar conta de nada sozinha. Depender é natural e ter alguém dependendo de nós também é um exercício da maternidade e da paternidade. A independência vem com o tempo e são as experiências emocionais vividas através da figura pela qual o bebê dependeu que vai ajudar a construir a sua auto estima e fará com que ele encare o mundo de forma menos dura (ou não?).

Bom, o que eu trouxe aqui é uma reflexão, não uma verdade absoluta, é a forma como tenho vivido este momento . Penso que acabei sendo tendenciosa a favor de eu e meu marido permitirmos que nossos filhos estejam no meio de nós por várias noites. Mas não vejo problema nenhum nisso, pois não sofremos nenhuma pressão para chegarmos nessa decisão e adoramos demais ficarmos assim, grudadinhos.

Tenho certeza que os meus bebês crescerão muito rapidamente (como tem ocorrido) e logo não vão mais querer estar no meio da gente (até porque logo não  não caberão mais mesmo). Enquanto isso, vamos curtindo esta vivência que, não tenho dúvidas, deixará boas lembranças na memória por muito tempo e que jamais voltará.

E para finalizar, quero deixar aqui uma frase da minha mãe, que sempre alivia qualquer “peso” que eu possa sentir com essa decisão: “Você conhece alguém que casa e continua dormindo no meio do pai e da mãe?”. Claro que essa é uma colocação bem exagerada, mas ela traduz a verdade. Essa experiência não será para sempre então é melhor aproveitá-la enquanto dá.

Espero ter colaborado de alguma forma com os pais que estão vivendo essa experiência e, de alguma forma, se culpando por isso.

Thaiz Carvalho, Psicóloga Clínica, mãe de um casal e esposa.

 

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