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Você sabe o que é e como lidar com o ingurgitamento mamário?

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Esse post foi especialmente escrito para as futuras mamães, para ajudá-las a entender um processo bastante comum no ato de amamentar mas que, se não for bem conduzido, pode levar a problemas sérios na produção de leite.

Estou me referindo  do ingurgitamento mamário, que é um acúmulo de leite nas mamas, o qual pode ser normal e totalmente aceitável dentro do processo de amamentação (ingurgitamento fisiológico) ou tornar-se um problema, caso o ingurgitamento fisiológico não seja bem “tratado” (nesse caso, torna-se ingurgitamento patológico) e levar a complicações mais severas, como a mastite, por exemplo.

E para falar sobre esse assunto eu convidei a consultora em aleitamento materno Gabriela Giacheta, uma colaboradora já conhecida aqui do blog. No post de hoje, além de explicar direitinho a diferença entre esses dois tipos de ingurgitamentos, a Gabriela ainda dá dicas de como evitar e tratar o problema.

Com vocês, os esclarecimentos da Gabriela sobre esse assunto. Boa leitura!

Ingurgitamento mamario
Photo Credit: c r z via Compfight cc

O ingurgitamento mamário 

Por Gabriela Giacheta

Antes de entrarmos na questão do ingurgitamento mamário, acho importante falar um pouquinho sobre um processo anterior, que se chama apojadura.

Por volta do segundo ou terceiro dia após o nascimento do bebê os níveis hormonais (estrogênio e progesterona) já reduziram em quantidade significativa na circulação sanguínea e inicia-se a produção efetiva de leite. É quando ocorre a descida do leite ou apojadura. A apojadura caracteriza-se por um aumento no volume e na temperatura das mamas, que podem ficar dolorosas e sensíveis num primeiro momento. Mas isso é absolutamente normal e, com o tempo, a produção de leite se estabelece, fazendo as mamas voltarem ao seu “estado” habitual.

Entretanto, em alguns casos, a produção do leite torna-se maior que o consumo do bebê (por motivos como pega incorreta, por exemplo, ele não consegue extrair o leite como deveria) e aí o leite acaba acumulando-se no peito e causando o processo que conhecemos por ingurgitamento mamário. Não são todas as mulheres que passam por problemas de ingurgitamento mamário e isso, de forma alguma, significa que ela não tem uma boa produção de leite. Apenas, há outros fatores que fazem com que o seu peito não fique com excesso de leite (pega correta é um deles).

No ingurgitamento mamário há três componentes básicos: congestão/aumento da vascularização, acúmulo de leite e edema (que é consequência da congestão) e obstrução da drenagem do sistema linfático. Se não ocorrer o alívio da congestão, que nada mais é que a retirada do excesso de leite, a produção de leite é interrompida e o leite acumulado é reabsorvido. É importante ressaltar que todo esse leite acumulado sofre um processo de transformação dentro do próprio seio, o que altera sua consistência e o mesmo fica viscoso o que origina o termo “leite empedrado”.

O ingurgitamento mamário fisiológico é discreto e representa um sinal positivo de que o leite está “descendo” e não precisa de nenhum tipo de intervenção. Nesses casos, a dica é amamentar em livre demanda, sem horários pré-determinados, e realizando as massagens nas mamas toda vez antes de amamentar, aliviando a tensão da região areolar.

Já no ingurgitamento mamário patológico ocorre uma distensão tecidual excessiva, gerando um grande desconforto, às vezes acompanhado de febre e mal-estar. A mama apresenta-se aumentada de tamanho, dolorosa, com áreas avermelhadas, edemaciadas e brilhantes. Os mamilos ficam achatados (a mama aumenta muito de volume e o mamilo “diminui”, já que se volta para dentro) o que dificulta a pega do bebê e o leite, na maioria das vezes, não flui facilmente. Geralmente ocorre com mais frequência em torno do terceiro ao quinto dia após o parto e associa-se a um ou mais dos seguintes fatores:

  • Início tardio da amamentação (e aqui estou falando da primeira mamada do bebê ainda no ambiente hospitalar que deve acontecer na primeira hora de vida);
  • Mamadas infrequentes, restrição da duração e frequência das mamadas;
  • Problemas de posicionamento durante a mamada, pega incorreta, uso de complementos, intermediários, bicos artificiais e sucção ineficaz do bebê.

O ingurgitamento pode ficar restrito à aréola, ao corpo da mama ou se estender a ambos. Quando há ingurgitamento areolar, o bebê pode ter dificuldade na pega, o que impede o esvaziamento adequado da mama, piorando o ingurgitamento e a dor.

Sobre o tratamento:

  • Se a aréola estiver tensa, massagear e ordenhar manualmente (atenção na técnica para não se machucar) um pouco de leite antes da mamada, para que ela fique macia o suficiente para o bebê abocanhar a mamar adequadamente;
  • Amamentar com frequência, em livre demanda e sempre que você sentir necessidade;
  • Fazer massagens delicadas nas mamas – importantes na fluidificação do leite viscoso e no estímulo do reflexo de ejeção do leite;
  • Fazer uso de medicação, mas apenas se prescritas pelo ginecologista ou pediatra;
  • Usar suporte para as mamas, como sutiã com alças largas e firmes, para alívio da dor e manutenção dos ductos em posição anatômica (atenção para sutiãs apertados que comprimem as mamas. Esses devem ser evitados);
  • Usar compressas mornas para ajudar na liberação do leite, que não pode exceder o tempo de vinte minutos. Para isso procure a orientação de um profissional, visto que se não utilizada de maneira adequada pode piorar o quadro de ingurgitamento;
  • Usar compressas frias após as mornas e/ou nos intervalos das mamadas para diminuir o edema, a vascularização e a dor.

No próximo texto irei abordar sobre mastite, que é uma consequência das fissuras mamilares e do ingurgitamento mamário não tratados de maneira adequada.

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Gabriela Giacheta 28 anos, mãe do Miguel, de 2 anos, é enfermeira especializada em obstetrícia e gerontologia, Consultora em Aleitamento Materno e Doula Pós-Parto pelo GAMA (Grupo Apoio Maternidade Ativa).  Ela também é responsável pela página Descobridores de Mundo, na qual compartilha muita informação bacana sobre maternidade ativa e vale à pena ser acompanhada.

 

 

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