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Adaptação do bebê: o choro no momento da separação entre mãe e bebê

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Recentemente, recebi um e-mail de uma leitora Herbenia Silvia, pedindo que eu falasse aqui sobre adaptação do bebê na creche. Ela pedia um post sobre a melhor forma para a criança e para a mãe, passar pelo desapego e choros (de ambos, rs). Ela me contou que sua bebê estava com 8 meses e indo para a creche. Então, pedi ajuda para a nossa colunista Ana Paula, que é educadora especialista de crianças de 0 a 3 anos. Nesse texto, ela fala sobre o choro no momento da separação entre mãe e bebê. Confira!

Adaptação do bebê: O choro no momento da separação entre mãe e bebê

Chorava todo mundo, mas agora, ninguém chora mais, chora mais” – Jorge Ben

Embora não seja apenas a mãe que vivencie algumas dificuldades para se distanciar de seu filho durante o período de adaptação, neste texto o foco será dirigido a ela e consequentemente ao seu bebê.

Para muitas mães, o período de adaptação se configura como uma das primeiras experiências de passar um período mais longo, distante do seu bebê e/ou deixá-lo sob os cuidados de profissionais da área de educação em que os vínculos ainda estão em construção.

Para dar conta de analisar com maior clareza as sutilezas que permeiam este momento, sugiro que façamos uma descrição do que o caracteriza:

Devemos nos lembrar que muitas mudanças significativas estão acontecendo na vida do bebê. Quando ele tem entre quatro e seis meses, a introdução de novos alimentos possivelmente não foi iniciada e o bebê tem como experiência mamar apenas no seio da mãe, então, neste começo, o desafio está em conseguir mamar num formato novo (mamadeira, copo de transição ou copo aberto), tendo que fazer um grande ajuste motor para dar conta de tomar leite neste novo formato. Também, devemos nos lembrar que até então além de saciar a fome, o ato de mamar representava um momento de grande contato físico com a mãe e de muitas trocas afetivas.

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Quando o bebê é um pouco maior, entre seis e oito meses, muitas outras conquistas estão acontecendo em sua vida. Ele começa a sentar sem apoio, a se deslocar rastejando ou engatinhando, então o bebê, por si mesmo, começa a viver a sensação da separação, que é se colocar à distância de sua mãe, mas sentindo ainda que seu olhar está por perto. Além disso, inicia-se a introdução da alimentação sólida, quando o bebê começa a experimentar novos sabores e texturas, num novo ritmo para ingestão dos alimentos.

Então, se ficarmos apenas neste dois aspectos, alimentação e mudanças na relação que o bebê estabelece com o mundo a partir de seus movimentos, esta já é uma fase bastante intensa, em que ele começa a perceber que a mãe existe para além dele, e a mãe começa a perceber que o bebê existe para além dela. Este é um período reconhecido pela chamada ansiedade da separação, em que o bebê manifesta através do choro, ou da irritabilidade, o desconforto, frente ao afastamento da mãe. Muitas vezes, quando ela retorna ele tem uma reação de recusa, ou de ignorá-la, como se estivesse punindo-a por tê-lo deixado com outras pessoas que não ela.

Uma coisa que acontece no retorno da mãe é o fato do bebê demorar um certo tempo para restabelecer a imagem mental de quem ela é, por isso a psicanalista Françoise Dolto sugere que o reencontro com o bebê seja mais calmo, com menos ansiedade e expressividade dos afetos, para dar tempo para que ele se restabeleça e retome o contato com a mãe.

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Quando um bebê que já iniciou a adaptação, já passou pelo período de conhecer o ambiente, os educadores e está minimamente familiarizado com o que acontece neste novo local e, quando a mãe conhece os(as) educadores(as) e um pouco da rotina a qual seu bebê irá vivenciar neste novo espaço educativo, é o momento em que a separação irá se concretizar.

O que eu quero ressaltar é que a separação entre o bebê e a sua mãe deve ter um ritmo, nunca acontecer de maneira abrupta para não perder o sentido de o espaço educativo ser algo bom para o bebê se desenvolver e para a mãe continuar a ser as outras coisas que ela deseja.

Se o bebê expressa desconforto pelo choro, ele precisará receber um acolhimento e a mãe, por sua vez, pode chorar ao ver seu bebê estranhando e também precisará receber um acolhimento. Às vezes, pode ser benéfico a mãe retornar e permanecer mais um pouco com seu filho(a), mas se a separação for tratada de forma objetiva, isto é, quando a mãe aceita que está deixando seu filho(a) no berçário porque precisa cumprir algum compromisso (de trabalho, de estudo e até mesmo lazer), é necessário que haja a separação e cada um dos dois receba o acolhimento necessário.

Ao longo do dia é interessante que a escola mande notícias de como está o bebê, podendo enviar fotos ou filmagens dele. Com isso, a mãe verá que, mesmo que demonstre algum tipo de desconforto, ele está bem, está inteiro.

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A mãe, por sua vez, passa a ter a oportunidade de olhar e pensar em outras coisas e isso pode trazer para ela a possibilidade de sentir saudade, pois as demandas que um bebê solicita são muito grandes e as mães procuram querer corresponder a elas, da maneira mais exemplar possível. Só que isso, muitas vezes as esgotam. Enquanto isso, o bebê tem a oportunidade de estar com outras pessoas, viver novas experiências que por si mesmo não viveria, ter a experiência de se conhecer como pessoa, sem que tenha que receber a aprovação ou corresponder a expectativa que no âmbito familiar costumam ser depositadas. Irá conhecer outras vozes, outros cheiros, histórias e músicas, enfim, irá se abastecer de boas experiências. Assim, quando se der o reencontro, mãe e filho(a) poderão se reconectar renovados.

E isto é um ciclo que se repete. Então, ao invés de negarmos o choro, devemos reconhecê-lo como algo representativo deste momento, dando-lhe uma boa escuta. Saber que apesar do choro, tanto o bebê como a mãe, vão passar por boas experiências, longe um do outro, e ao se reencontrarem poderão estabelecer novas trocas.

Adaptação

No momento de adaptação, é essencial que haja respeito, escuta ao choro e espaço para outras experiências. Nos casos em que o choro é maior do que um dos dois suporta, é importante que o tempo de separação seja reduzido. De preferência pelo reencontro físico dos dois. Porém, sabemos que isso muitas vezes não é viável, sendo assim, é preciso pensar formas de trazer essa sensação de presença mesmo na ausência. O que pode acontecer a partir de imagens ou objetos que representem um ao outro.

No caso da mãe, a possibilidade de ver fotos ou cenas do bebê brincando por imagens enviadas pode ajudá-la a ficar mais tranquila. Mas não somente por câmeras que ela acompanha incondicionalmente. No caso do bebê, devemos oferecer elementos que remetam à presença da mãe. Como por exemplo: um objeto de apego, uma foto, uma camiseta com o cheiro dela, ou uma gravação de sua voz. Tudo isso ajuda a minimizar, no bom sentindo, a sensação de ausência. Tornando possível a cada um lidar com a separação e oferecendo abertura para que possam vivenciar boas experiências distantes, mas sempre conectados.

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