Categorias: experiências | Relatos e Impressões pessoais

Basta um segundo

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Na semana passada, eu publiquei um post no qual eu contava o susto que tivemos com o Caê, quando ele caiu na piscina e, mesmo tendo vários adultos em volta (inclusive eu), ninguém viu no instante que isso aconteceu.

Quando eu comentei sobre esse acidente no Instagram Stories e, depois, quando contei o ocorrido no blog, recebi várias mensagens de mães contando que já tinham passado por algo parecido, que já tinham vivido essa experiência, exatamente igual, ou que tinham ficado sabendo de outros casos iguais, também há poucos dias, só que nos quais o desfecho da história não tinha sido tão feliz, já que as crianças haviam ido a óbito.

Mas de todos os relatos que eu ouvi, nenhum deles me tocou tanto. Nenhum deles mexeu tanto comigo. Eu falo do relato abaixo, de uma mãe que me escreveu para contar que o relato do acidente do Caê fez com que ela lembrasse de um episódio que havia vivido há alguns anos, no qual perdeu a sua filha, na época com 1 ano e 8 meses.

E em função de ter ouvido tantas histórias, de acidentes envolvendo piscina, alguns envolvendo inclusive morte, achei que valia a pena falar sobre isso aqui no blog de novo, com o intuito de alertar para o perigo que envolve crianças e água (seja piscina, mar, rio, lago, etc…).

E, principalmente, alertar sobre os riscos ocultos, ou seja, aquelas situações nas quais a gente nem imagina que algo possa acontecer (a grade da piscina está fechada, a porta da casa está fechada, a criança não alcança para abrir, tem adultos juntos, etc….), mas que acontece. E é muito rápido! Basta um segundo, basta um instante.

Photo Credit: Costa Rica Bill Flickr via Compfight cc

Assim, hoje, trago o relato de uma mãe que perdeu sua filha num acidente com piscina, quando ela tinha 1 ano e 8 meses.

Sobre o acidente do Caê: eu sofri esse desespero

Oi Shirley! Sigo o blog e adoro os post, mas, dessa vez, foi com uma dor enorme no peito e um aperto na garganta que li o post que você fez sobre o acidente do Caê. A cada parágrafo lido, um filme passava em minha mente e as lágrimas caiam dos meus olhos. Foi em Dezembro de 2013 que saímos para nossas primeiras e única férias em família, com destino à praia. Mas antes, paramos na casa de um tio do meu marido, para vê-los, e foi onde tudo aconteceu.

Era manhã do dia que seguiríamos para a praia. Tudo estava pronto e faltava apenas pôr as malas no carro. Minha filha que tinha 1 ano e 8 meses, brincava com meu marido e ia atrás dele enquanto ele levava as malas. Eu fui fazer uma mamadeira, para caso ela pedisse e, neste momento, meu marido veio e me perguntou: “Amor, a Sofia Helena está aí, com com você?”. Eu a tinha visto brincando ao meu lado e, então, me virei para pôr a mamadeira no microondas. Coloquei e, quando me virei novamente, meu meu marido voltou a perguntar:  “Amor, cadê a neném?”. E eu falei: “Ela está aqui’. No que olhei de novo, ela tinha sumido. Um segundo!

Nesse momento, nossa tia entrou e falou: “Acabei de vê-la aqui na cozinha!”. Nesse dia,  éramos seis pessoas na casa e, de repente, ela desapareceu. Meu coração apertou e eu saí correndo para procura-la. Não conhecia a casa direito e, por ser grande e ser a minha primeira vez lá, fui procurá-la na sala e meu marido, que já conhecia bem o lugar, saiu correndo por uma porta que ficava junto à sala de jantar e dava para a área da piscina. Logo depois, fui atrás e foi quando vivi o mesmos segundos eternos de terror que você. Meu marido, como chegou na frente, pulou na piscina e retirou nossa filha com a cabecinha caída para trás e começou a gritar para que eu a pegasse. Naquele momento, agi por impulso e por Deus. Assim, peguei-a e coloquei-a no chão. Vi que ela não respirava, estava roxa e gélida. Meu marido começou a gritar e a pedir a Deus para que ela estivesse bem. Então, eu fiz respiração boca a boca e massagem cardíaca e minha filha começou a soltar água e a banana que ela comeu no café da manhã. Senti um alívio enorme e, nesse momento, a levamos para o hospital mais próximo. Chegando lá, encaminharam-na para outro, no qual ela permaneceu por 29 dias, na UTI.

A Sofia Helena teve muitas complicações devido ao tanto de água que ingeriu. Foram dias de verdadeiro terror e a cada dia ela piorava. Ela respirava com a ajuda de aparelhos, teve necrose nos quatro membros, os rins pararam de funcionar por falta de oxigenação. Com 21 dias de uti ela teve morte cerebral e nós ficamos mais 7 dias esperando seu coraçãozinho parar. Nossa filha foi embora dia 05 de janeiro de 2014. Em março de 2014 engravidei.

Hoje, meu filho tem 2 anos e por ele superamos nossos receios, medos e traumas. Principalmente quando o assunto é piscina. Mas eu confesso que sempre fui cuidadosa e sempre tive medo de piscina e de ver criança brincando com água. Parece que meu coração me avisava que algo um dia iria acontecer.

Hoje, ainda é muito difícil ir a lugares que não conheço. Sempre vem junto o medo e a insegurança. Mas vivemos, dentro do possível, de maneira normal, evitando passar esse medo e essa insegurança para nosso filho. Eu e o meu marido conversamos e decidimos nunca privá-lo de nada, mas estamos sempre ao seu lado, zelando ininterruptamente pela sua segurança.

Ainda, para garantir que nada de mal aconteça, eu continuo fazendo a mesma coisa que fizemos quando chegamos lá, no local do acidente da Sofia: supervisionar o lugar para ver os perigos que existem – mas hoje sei que mesmo fazendo isso o perigo existe e basta um segundo para uma tragédia acontecer. Naquele dia, no caso, uma pessoa chegou na casa, abriu e esqueceu de fechar porta que dava para a área da piscina, sem saber que havia pessoas estranhas e uma criança no lugar. E uma criança passou por essa porta. A nossa filha cruzou a porta que dava para a piscina. E ninguém viu.

Então eu digo: pense no quanto você que se sentiu culpada pelo acidente do Caê. Agora imagine eu a culpa que carrego. Mas Deus e meu filho me dão forças para seguir e carregar essa dor e essa culpa. E através deles que eu sigo adiante.

Te escrevi, pois gostei de você fazer este alerta, chamando atenção para os riscos quando envolve piscina e crianças. Sei que, realmente, por mais cuidados que tenhamos, nunca é demais. Nunca! Antes do acidente da Sofia, cheguei a ouvir que devíamos colocar a nossa filha em uma redoma de vidro, de tanto que cuidávamos dela. Pois hoje eu sei, mais do que ninguém, que eu não estava errada em ser tão cuidadosa e que, mesmo assim, acidentes podem acontecer, pois basta um segundo, basta uma olha para o lado para colocar uma mamadeira no microondas.

Hoje, não ligo para o que dizem. Se quiserem me chamar de exagerada, tudo bem. Faço para o Pedro Gabriel o melhor que posso, como sempre fiz para a Sofia Helena.  Mas, infelizmente não sou perfeita e, antes de ser mãe, sou humana.

Beijos e tudo de bom. Que Deus abençoe você e sua linda família.

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