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Como voltar a viver depois de um aborto espontâneo

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Se tem uma coisa muito triste é uma mulher passar por um aborto espontâneo. Acho que só quem passa por isso, sabe o quanto realmente dói. Quando engravidamos, nossa vida passa a ser acompanhada de muitos sonhos, planos e expectativas. No início pode até parecer impalpável, mas no decorrer das semanas e meses, nossa barriga cresce e os sonhos ficam cada vez mais concretos. Aquele bebê dentro de nós torna-se cada vez mais real. Por isso, quando uma mulher tem a gestação interrompida, acho impossível imaginar a dor que ela sente. Ninguém sente a perda do mesmo jeito de quem passa por isso.

Pensando nisso, para tentar ajudar mulheres que passaram por esse momento, a psicóloga Nivea Loza, nossa nova colunista no MdM estreia com um texto: como voltar a viver depois de um aborto espontâneo.

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Como voltar a viver depois de um aborto espontâneo

A pedido de uma leitora do blog, meu primeiro artigo deveria falar sobre a dor da perda de um filho através do aborto espontâneo.

Confesso que fiquei horas pensando o que escrever para mães, casais e famílias que tiveram na vida essa triste e difícil realidade. Existem milhares de artigos falando sobre o lado triste e devastador: como consolar o inconsolável; estatísticas mostram que 20% das gravidezes acabam num abordo; que trata-se de algo normal; que faz parte da vida; que acontece; e vai passar…Foi por isso que decidi escrever diferente. 

Tudo isso, ao meu ver, só reforçaria ainda mais a dor sentida nesse momento. Reforçaria a morte e não a vida. Para a morte, infelizmente, não se tem jeito, enquanto a vida… Essa sim pode ser vivida depois de uma fatalidade desta.

Pensando nisso, nessas mães, pais e famílias, resolvi escrever sobre a vida. Contrariar a dor da morte, mas nunca tapando o sol com a peneira ou escondendo a dor dentro do peito fingindo que nada aconteceu.

É acolhendo esse momento, acolhendo essa dor, que realmente o tempo ajuda a amenizar.

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A espera por um bebê é um tempo de muita alegria e felicidade. Uma mulher grávida se empodera. Ela sabe que ali batem agora dois corações, ou mais, às vezes. Ao mesmo tempo, sente um medo gigantesco, medo da gravidez, medo do aborto, medo do parto, medo de que seu filho nasça com algum problema. Mas ela está tão poderosa que vence todos esses medos, enfrenta tudo e todos como uma bravura incontestável, e por quê? Porque dentro dela existem algumas forças que, por vezes, não imaginam ter.

Vamos explorar aquilo que faz a vida valer a pena e produzir condições para isso. É  disso que precisamos conversar mais e entender como utilizar essas mesmas forças nesse momento tão cruel e devastador do abordo.

Escolhi 6 forças para ajudar nesse momento

1.     Curiosidade/Interesse pelo mundo da gravidez

Uma mulher grávida quer saber tudo sobre o mundo que está entrando. Pesquisa, planeja, pergunta… Quer saber o que esperar quando se está esperando. Curiosa, segue blogs, lê artigos, troca ideias com outras grávidas, até simpatia ela faz, não é?

Na verdade, ela busca por informação. Após um aborto, se ela também mantiver essa força e buscar a informação do por quê ocorreu a perda do bebê, ela provavelmente se desprenderá da culpa. Entender que não foi sua culpa alivia muito a dor. Estamos falando em abortos naturais, ou seja, onde a natureza  entende que aquele bebê não está apto para vir ao mundo. Não temos o que fazer contra a natureza, só nos cabe acolher a sabedoria dela.

2. Bravura e Valentia

Uma mulher grávida não recua diante de ameaças, desafios, dores ou dificuldades. A valentia vai além da bravura nas situações em que o bem estar físico é ameaçado.

A grávida dotada de bravura consegue separar os componentes emocionais e comportamentais do medo, portanto, resistindo à resposta de fuga e enfrentando a situação assustadora, apesar do desconforto produzido pelas reações subjetivas físicas.

Enfrenta exames, dietas, mal estar. Mas nada a faz desistir de seu filho! E, se preciso for, ela entregará sua própria vida por ele.

Diante de um aborto, se a mulher usar essa força, ela se levanta de uma forma avassaladora. Compreende que, a vida precisa seguir em frente, muitas tem outros filhos para cuidar, muitas se cuidam para que uma nova gravidez possa vir. A bravura permite entender que a emoção pode ser equilibrada, a dor acolhida e a vida retomada.

3. Bondade e Generosidade

Não existe no mundo alguém mais bondosa ou generosa como uma grávida. Já ouviram falar que grávidas ficam iluminadas? Que passam a viver para o bem estar do filho? Existe maior boa ação do que gerar um filho? Emprestar seu corpo para gerar um ser que você ainda nem conhece? Que leva os interesses de outro ser humano tão a sério quanto leva os seus?  Esse relacionamento está voltado para os melhores interesses do outro. Às vezes, superando os próprios desejos e necessidades imediatas. Você assume a responsabilidade por alguém.

Agora é a sua vez, na dor do aborto. Você precisa ser generosa e bondosa com você. Cuidar de você com todo seu amor e carinho. Não se culpar, não pensar no que poderia ter feito diferente, não se cobrar por não ter comido coisas mais saudáveis. Nessa hora, todas as culpas se empoderam também, mas elas só servem para lhe trazer ainda mais dor. Não é hora de permitir isso com você. A hora é de se dar toda a generosidade possível.

4. Amor e Capacidade de ser amado

A mulher grávida entrega seu amor no mesmo minuto que sabe sobre sua gravidez. Ela passa a viver com o coração fora do peito, nas mãos. Seu coração é puro amor. Por isso ela vibra no amor, dedica seu amor, vive por ele, se submetendo a tudo por esse amor.

E infelizmente a dor da perda será do mesmo tamanho do seu amor. Por isso, é tão cruel e devastadora a morte de um filho no ventre de sua mãe.

É nessa hora que você, mãe, deve permitir e ter a capacidade de ser amada. Pelo seu companheiro, pela sua família, por outros filhos. Não recuse esse amor, entregue-se a ele. Como resultado ele será seu bálsamo, seu colo e sua cura.

5. Gratidão

Sabe aquela gratidão que você sentiu quando viu seu exame de gravidez positivo?

Aquele momento onde você e sua família comemoraram e agradeceram pelo novo bebezinho à caminho? Todo sentimento de felicidade e realização?

Na hora difícil ele também pode ajudar. Enfim, seja grata pela oportunidade de ter ficado grávida, pela oportunidade de poder engravidar novamente, pela oportunidade de, mesmo no sofrimento, ter aprendido algumas coisas importantes na vida.

Na dúvida, lembre-se de que a palavra vem do latim gratia, que quer dizer graça.

E, por último…

6. Esperança e Otimismo

Ao engravidar você espera o melhor do futuro, planejando e trabalhando para que seja assim. Esperança, otimismo e responsabilidade com o futuro são uma família de forças que representam uma postura positiva em relação ao que está por vir. Esperar por bons momentos, sentindo que eles ocorrerão como resultado de um esforço. Além de fazer planos para o futuro, garantem o bom ânimo aqui e agora, e estimulam uma vida direcionada para objetivos.

Nesse momento de dor, esta força precisa ser retomada. Portanto, volte a acreditar no futuro que tudo acontecerá no seu tempo, que momentos melhores virão e outras oportunidades surgirão. Seja otimista, tenha fé, acredite que Deus sabe de todas as coisas e que você será presenteada novamente com bons momentos.

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