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Depressão pós-parto: será que eu tive?

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Nos três primeiros meses após o nascimento do Léo eu me perguntava, quase todo santo dia: Será que um dia esse pesadelo irá acabar? E toda vez que esse questionamento passava pela minha cabeça, de bate-pronto também vinha um sentimento enorme de culpa. Afinal, eu tinha acabado de ter um bebê, deveria me sentir a pessoa mais feliz e abençoada da face da terra, mas não era bem assim que as coisas estavam acontecendo.

Algumas poucas vezes, criei coragem, e meio em tom de confissão, aos prantos, também fiz essa pergunta para o meu marido, que numa das situações chegou a chorar junto comigo, o que me fez perceber que algo realmente não ia bem. E era comigo.

Logo que o Léo nasceu, eu tive problemas para amamentá-lo (já comentado aqui), depois ele começou a apresentar os sintomas da sua APLV (também já contado aqui) e tudo isso virou uma enorme bola de neve na minha vida de recém mãe. Assim, em vez de eu curtir a chegada da coisinha mais fofa e mais esperada do mundo, eu só sofria. Primeiro, eu me perguntava dia e noite por que não conseguia amamentar da forma que eu havia planejado e, depois, me questionava, também dia e noite, o que o Léo tinha que ele sofria tanto, chorava tanto e continuava sem conseguir mamar (dentre outras tantas coisas que comentei no post da APLV).
Para completar esse quadro desesperador, o Léo nasceu no início do inverno. Quer dizer, não no início oficial do inverno, mas quando o frio realmente chegou. Assim, meus primeiros dias com ele em casa foram gelados, com pouco sol e sem poder sair. E logo depois, um mês após o nascimento do dele, a minha mãe, que estava aqui me dando uma ajuda, também teve que ir embora (ela mora em outro estado). Bom, me vi sozinha, perdida, insegura, cheia de dúvidas, com minha intuição martelando que havia algo de errado com o Léo (só descobrimos a APLV quando ele já tinha quase 3 meses) e, ainda por cima, em pleno inverno, sem nem conseguir ver o sol direito ou andar na rua para tomar um ar (quando estou para baixo, essas são coisas que PRECISO fazer).
 
No meio dessa situação toda resolvi buscar na internet mais informações sobre depressão pós-parto. Já tinha ouvido falar, já tinha lido algumas coisas a respeito, mas ainda era bem “crua” nesse assunto. Mas se ela existia, se ela podia atingir um número significativo de mães, ela também poderia estar acontecendo comigo. Afinal, ninguém está livre.
 
Lendo sobre esse problema, que não é tão raro, descobri algumas coisas:
  • É comum a mulher apresentar uma certa tristeza e irritabilidade no pós-parto (devido a cansaço, descarga hormonal, etc…). Essa tristeza costuma iniciar três dias após o nascimento do bebê, atingir seu ponto máximo no quinto dia, e, por fim, diminuir e cessar até o décimo ou décimo quinto dia (ou, no máximo, até três semanas). Essa tristeza comum é conhecida por Blues Post Partum ou Baby Blues. Já quando se trata de um quadro que pode vir a ser diagnosticado como depressão, essa tristeza, em vez de diminuir, tende a aumentar com o passar do tempo, durando semanas ou até meses, transformando significativamente a vida dessa mãe e podendo levar até ao descaso com o bebê ou ao suicídio. (Fonte:
  • De acordo com estatísticas americanas, de 10 a 15% das mulheres apresentam quadros de depressão pós parto (e não apenas a tristeza comum que é normal acometer a parturiente).
  • Mulher com história de depressão no passado, seja relacionada ou não com o parto, ou depressão durante a gravidez (quadro menos frequente, mas também possível) está mais sujeita a desenvolver transtornos depressivos. Alguns fatos, por exemplo gravidez não desejada ou não planejada, causam aumento do estresse ao longo da gestação e podem contribuir para o aparecimento do problema. (Fonte: http://drauziovarella.com.br/mulher-2/depressao-pos-parto-3/)
Bom, como a minha tristeza perdurava por mais de duas semanas, resolvi pesquisar mais e ler sobre os sintomas que essa doença poderia apresentar. Encontrei, em diversas fontes, mais ou menos o seguinte:
 
(Obs: 1. Alguns sintomas são completamente opostos, mas é exatamente isso. Em algumas mulheres eles se apresentam de uma forma, em outras de outra. 2. No final de cada frase, entre parênteses, relato o que eu senti.)
  • Sensação de que não vale a pena viver e de que nada de bom vem pela frente (não cheguei a sentir que não valia a pena viver, mas tinha a impressão de que aquele quadro, do mal estar do Léo, não iria passar nunca)
  • Tristeza constante, especialmente na parte da manhã e/ou à noite (me sentia triste várias vezes ao dia)
  • Sensação de culpa e de responsabilidade por tudo (culpa não, responsabilidade sim)
  • Irritabilidade e falta de paciência com parceiro e filhos (tive muitos momentos de irritação)
  • Choro constante (não chegou a ser constante, mas chorei bastante)
  • Exaustão permanente, acompanhada de insônia (exaustão sim, insônia não)
  • Incapacidade de se divertir (sim, eu só tinha o problema do Léo em mente, enquanto ele não melhorasse eu sentia que não iria conseguir fazer nada)
  • Perda do bom humor (sim)
  • Sensação de não conseguir lidar com as circunstâncias da vida (sim)
  • Enorme ansiedade em relação ao bebê e busca constante por garantias, por parte de profissionais de saúde, de que ele está bem (sim)
  • Preocupação com sua própria saúde, possivelmente acompanhada pelo temor de ter alguma doença grave (não)
  • Falta de concentração (sim. Totalmente)
  • Sensação de que o bebê é um estranho e não seu próprio filho (não)
  • Falta de libido (até o terceiro mês)
  • Aumento ou diminuição do apetite (diminuição, no meu caso)
  • Sensação de que chegou ao fim da linha e incapacidade de sair dessa situação (cheguei a sentir isso algumas vezes)
  • Zelo excessivo com o bebê (sim)
  • Incapacidade ou falta de vontade/desejo de cuidar do bebê (definitivamente não)
Hoje, enquanto pesquiso novamente sobre esse assunto e paro para pensar e escrever a respeito, duas coisas passam pela minha cabeça:
 
1. Quando li toda essa lista de sintomas, lá no meio do desespero, vi que eu apresentava vários deles, entretanto, o que para mim parecia ser o mais marcante de todos – incapacidade ou falta de vontade/desejo de cuidar do bebê – eu não apresentava. Assim sendo, na época, pensei que não era nada e não fui atrás de ajuda. Afinal, eu cuidava do meu bebê e então não poderia ser depressão. Mas depois de chegarmos até esse ponto da leitura sabemos que não é bem assim. Quadros de depressão pós-parto podem justamente apresentar o sintoma oposto – zelo em excesso – e esse eu tinha. Vendo por esse ponto de vista, volto a cogitar que sim, talvez eu tenha tido uma depressão pós-parto não identificada.
 
2. Por outro lado, meu quadro de desespero máximo com a situação do Léo e com o que eu vinha vivendo durou exatos três meses. Depois disso, as coisas foram tomando o seu lugar. Com quase três meses descobrimos o seu problema, que era a grande fonte do me desespero (APLV) e pudemos tratá-lo. Aos poucos, ele foi melhorando e eu fui voltando a viver. Quando o Léo fez seis meses, outro marco na sua vida, com introdução de sólidos e mais melhora no seu quadro, eu também fui me libertando mais daquela tensão. Hoje, apesar dele ainda apresentar alguns altos e baixos, vivemos uma situação absolutamente normal, sem grandes desesperos. Vendo dessa forma, posso dizer que não cheguei a ter uma depressão pós-parto, mas apenas uma tristeza aguda, consequência de ver meu bebê, semana após semana, sofrendo com um problema que não era identificado nem tratado.
 
Onde eu quero chegar com tudo isso? Quero chegar ao ponto que depressão pós-parto existe, faz sofrer e pode levar à morte (sim, alguns casos chegam à suicídio). Assim, se você tem alguns ou vários dos sintomas que eu apresentei acima, e nenhuma situação real que possa justificar esse quadro, é melhor você procurar ajuda.
 
Em suma, até hoje, não sei se tive ou não tive depressão pós-parto. E, sinceramente, nem me importa saber. Depressão pós-parto não é algo que se deva ter vergonha, esconder, ocultar. Não é uma fraqueza e nem um erro. Não é uma falha. É simplesmente algo que acontece e que precisa de tratamento (caso não regrida naturalmente dentro de algumas semanas ou poucos meses).
 
Então, se você está lendo esse post e está com dúvidas se você está ou não com depressão pós-parto, convese com algum profissional que possa orientá-la: seu ginecologista, um terapeuta, um psicólogo,… Porque a resposta não importa mais no meu caso, que já estou ótima, vivendo a minha vida normalmente, mas para quem ainda está vivendo essa tristeza, qualquer ajuda é muito bem vinda. Mais do que isso, NECESSÁRIA.
 
Leia mais a respeito desse tema, esses links podem ajudá-la:

Site Dr. DráuzioVarela – Depressão Pós-parto: entrevista com  Dr. Frederico Navas Demétrio é médico psiquiatra, supervisor do Ambulatório de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo 

SiteBabyCenter – Informações Gerais sobre Depressão Pós-parto
Site daFolha de São Paulo – Poucas mulheres assumem a depressão pós-parto

Sempre Materna / UOL – Depressão pós-parto precisa ser tratada com psicoterapia

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