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Dificuldades para amamentar – parte I

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Mamães, hoje, o texto aqui na Coluna Pediatria, é daqueles que mexem muito com a gente: amamentação. Eu tive muitas dificuldades na amamentação do Leo e confesso que, vira e mexe, me pego pensando em como será com o Caê.

Por esse e tantos outros motivos (ou vocês duvidam que esse é um assunto SUPER relevante?) é que fiquei tão feliz e animada quando soube que esse seria o tema do post desse mês, escrito pela dra. Kelly, colaboradora querida aqui do blog (na verdade, o primeiro de uma série sobre o tema).

Espero que gostem das dicas e garanto que em breve virão outras, pois esse assunto dá muito pano para a manga. Boa leitura!

dificuldades para amamentar
Photo Credit: blinzelblinzel via Compfight cc

 

Dificuldades para amamentar – entenda o problema e descubra o que você pode fazer para contorná-lo

Por Kelly Oliveira

Olá, queridas mamães! Hoje vou falar sobre um tema que eu amo demais e tenho me aprofundado bastante ultimamente: amamentação. Acompanhei aqui no blog as dificuldades que muitas mamães tiveram, frustrações e angústias, e tudo que li confirma o que vejo por aí: falta orientação e sobram dúvidas. Logo que saímos da maternidade, pensamos que tudo será perfeito e que é só dar o peito que o bebê vai mamar. Porém, nem sempre é assim. Mamilos que ficam machucados, bebê que não suga, pega que é incorreta, leite que demora para descer, entre outros, são apenas algumas das dificuldades a serem enfrentadas e que tentam nos desanimar.

Por isso mamãe, é com muito carinho e pensando em você que escrevo sobre esse assunto. Se você tem ou teve algum problema para amamentar, ou mesmo é uma futura mamãe que está se informando sobre o assunto antes do bebê nascer, esse post é para você. Acabei dividindo o assunto em partes, pois devido a extensão do tema não caberia em um só. Assim, a ideia é explicar cada assunto e apresentar soluções e orientações para os mesmos. Vamos então adentrar nesse universo!

Há alguns problemas enfrentados pelas nutrizes (entenda nutriz = mamãe que amamenta) durante o aleitamento materno que se não forem precocemente identificados e tratados podem ser importantes causas de interrupção da amamentação.

Gostaria de destacar, antes de começar a falar sobre qualquer problema relativo à amamentação, que o conhecimento da pega e o seu posicionamento correto são fundamentais para o início de uma amamentação tranquila e que diversas dificuldades relativas à amamentação poderiam ser superadas com uma boa orientação em relação a isso. Por isso, vou colocar aqui, de forma resumida, os pontos chaves relativos à uma pega e posicionamento adequados e, para mais detalhes, consulte o post que escrevi sobre esse assunto aqui.

 Quatro pontos-chave que caracterizam o posicionamento e a pega adequados

Alguns pontos a respeito da pega e posicionamento corretos são essenciais e é importante tê-los em mente durante a amamentação.

Pontos-chave do posicionamento adequado:

  1. Rosto do bebê de frente para a mama, com nariz na altura do mamilo;
  2. Corpo do bebê próximo ao da mãe;
  3. Bebê com cabeça e tronco alinhados (pescoço não torcido);
  4. Bebê bem apoiado.

Pontos-chave da pega adequada:

  1. Mais aréola visível acima da boca do bebê;
  2. Boca bem aberta;
  3. Lábio inferior virado para fora (boca de “peixinho”);
  4. Queixo tocando a mama.

Bom, como os problemas que dizem respeito à amamentação são muitos e diversos, optei por começar a explorar o assunto abordando duas questões bem comuns e que geram muita angústia: a demora na “descida” do leite e sensação de baixa produção. Esses dois aspectos são cruciais na segurança da mãe para amamentar e quando não são bem compreendidos podem vir a gerar dificuldades no processo de amamentação.

Demora na “descida do leite”

A apojadura do leite ocorre, obrigatoriamente, após o parto, devido à queda abrupta do progestogênio e liberação de prolactina. A saída do leite, no entanto, é controlada pela ocitocina, que é estimulada pela sucção do bebê no seio materno. A descida do leite ocorre mesmo em mães que não vão amamentar, pois ela depende exclusivamente dos mecanismos hormonais relativos ao parto. Sendo assim, mamães, fiquem tranquilas que vai acontecer! Geralmente ela ocorre de 24h a 72h após o parto, porém, algumas mulheres podem levar mais dias, o que pode parecer uma eternidade. Para isso, a natureza é sábia e bebês a termo e com peso adequado ao nascer apresentam um estoque de glicose elevado e conseguem aguentar horas sem comer.

Pensamos, muitas vezes, que o nosso leite não está sendo suficiente porque só sai umas gotinhas minúsculas, mas saiba que o estômago do bebê só comporta, nessa idade, um máximo de 5ml por vez, então, a quantidade que eles precisam é realmente pequena! Além disso, qualquer bebê que apresente algum risco de apresentar hipoglicemia, seja devido a diabetes da mãe, porque é pequeno ou grande demais ou porque está mamando pouco, será monitorizado no hospital através de um exame chamado glicemia capilar de horário. E lembre-se: na maioria dos casos, a fórmula não é a solução e não deve ser dada como procedimento de rotina, somente com indicação médica. No lugar disso, estimule com frequência o seu bebê a sugar e ordenhe o leite, para que ocorra a descida do leite (para saber um pouco mais sobre esse assunto, leia esse post sobre Ingurgitamento Mamário).

Pouco leite

A grande maioria das mulheres tem condições biológicas para produzir leite suficiente para atender à demanda de seu filho. No entanto, uma queixa comum durante a amamentação é “pouco leite” ou “leite fraco”.

De fato, se houver diminuição da demanda de leite ou da sua retirada, seja por mamadas infrequentes, por um bebê que não suga adequadamente, um bebê sonolento, ou pelo uso de suplementação com mamadeira, o seu corpo entende que não precisa produzir tanto leite e a produção diminui. Quanto mais vezes o bebe suga o peito efetivamenteou seja, ele consegue retirar o leite, mais a mamãe irá produzir.

Entretanto, muitas vezes, a percepção de “pouco leite” é o reflexo da insegurança da mãe quanto à sua capacidade de alimentar o bebê. Muitas pessoas próximas dão pitacos, o bebê chora (por outros motivos que não fome), as mamadas nesse período são frequentes (e aí a mãe acha que ele mama a toda hora porque mama pouco) e aí a mãe interpreta esses sinais como sendo fome, fica ansiosa, passa essa ansiedade para a criança que, por sua vez, irá chorar mais ainda, criando um ciclo vicioso.

A suplementação, muitas vezes, alivia a tensão materna e essa tranquilidade é repassada ao bebê, que passa a chorar menos e reforçando a falsa impressão de que a criança estava passando fome. Só que uma vez iniciada a suplementação, a criança passa a mamar menos e aí sim a produção irá diminuir.

É importante que as mães tenham em mente que a produção do leite depende basicamente do esvaziamento da mama, ou seja, o número de vezes que a criança mama ao dia e a sua capacidade de esvaziar com eficiência a mama que vão determinar o quanto de leite materno será produzido (confira aqui dicas para aumentar a produção de leite).

O volume de leite que a mãe irá produzir irá variar de acordo com a demanda da criança. Normalmente, uma mulher amamentando exclusivamente produz 800ml de leite por dia e o bebê dá sinais quando não há leite suficiente, tais como: não ficar saciado após as mamadas, chorar muito, querer mamar com frequência e ficar muito tempo no peito nas mamadas. Entretanto, tais sinais nem sempre são tão confiáveis, já que o bebê chora por outros motivos também e mamar frequentemente é algo normal no início de vida.

Um bom parâmetro para avaliar se seu bebê está mamando adequadamente é o número de vezes que ele molha ou suja a fralda, sendo o normal um bebê urinar, em média, de 6 a 8 vezes por dia e ter em torno 6 evacuações, estas de consistência amolecida, pastosa, quase líquida. Se o bebê urinar menos de 6 vezes ao dia e as suas evacuações forem infrequentes, com fezes em pequena quantidade, secas e duras, isso pode ser um sinal indireto de que está recebendo pouco leite. Mas atenção! O bebê em aleitamento materno exclusivo pode ficar até uma semana sem evacuar e isso ser normal! Isso se deve a alta absorção do leite materno pelo organismo.

Por isso, o melhor indicativo de que a criança está recebendo volume adequado de leite é a constatação, por meio do acompanhamento de seu crescimento com o pediatra, de que ela está ganhando peso adequadamente. Por isso o acompanhamento com o pediatra é fundamental.

Outro ponto importante que acho que vale a pena destacar: Há, no leite materno, substâncias específicas que inibem a produção do leite (peptídeos inibidores da lactação), e a sua retirada, por meio do esvaziamento da mama, é que garante a reposição total do leite removido. Qualquer fator materno ou da criança que limite o esvaziamento das mamas pode causar diminuição na produção do leite.

A má pega é a principal causa de remoção ineficiente do leite. Mamadas infrequentes e/ou curtas, amamentação com horários pré-estabelecidos, ausência de mamadas noturnas, ingurgitamento mamário, uso de complementos e uso de chupetas e protetores de mamilo também podem levar a um esvaziamento inadequado das mamas.

Essa é a primeira parte desse tema, espero que tenham gostado! Procurei abordar da forma mais completa possível, baseado em conhecimentos científicos sobre o tema e minha experiência como pediatra. No próximo post tem mais!

Confira também:

Estou ansiosa para ouvir as histórias, sugestões e dúvidas de vocês!

Um grande abraço,

Dra. Kelly

Bibliografia:

  • Tratado de Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria, 2014.
  • Saúde na criança: Nutrição Infantil, Aleitamento Materno e Alimentação Complementar. Ministério da Saúde, 2009.

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