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O que é Sepse materna

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Hoje vamos falar de um assunto muito sério e que pode causar até a morte da mãe: sepse materna. O que é isso, Shirley??? É uma infecção fatal causada por germes. Essa infecção provoca inflamação nos tecidos do corpo e pode levar à morte. Por isso, é muito importante ficar atenta aos sinais que nosso corpo emite.

No post de hoje você vai entender o que é sepse materna e conhecer duas histórias de pacientes diferente. Quem compartilha conosco, é a Dra. Chiara d’Andréa Ayres, médica intensivista do corpo clínico do Hospital Samaritano de Botafogo. Confira!

Entenda o que é sepse materna

Hoje eu vim compartilhar as histórias de duas pacientes queridas: Marcela e Laura.

História da Marcela

“Marcela é uma jovem mulher de 28 anos, grávida se de seu muito desejado primeiro filho. Como muitas de nós mulheres, minha querida paciente equilibrava uma rotina intensa de trabalho com os cuidados e preparativos para a chegada de seu bebê. Na 34° semana de gestação ela começou a apresentar dores no baixo ventre. Além de vontade de urinar cada vez mais frequente. Considerou que fosse o “peso” da barriguinha a levando mais vezes ao banheiro. Passaram-se alguns dias e o seu cansaço só aumentava, assim como a dificuldade de manter sua rotina com tantas tarefas e por vezes, sentia seu corpo febril. Entretanto, sua rotina não se alterou e continuou se esforçando para manter tudo em ordem, até perceber que a quantidade de urina diminuía a cada dia e que o seu estado febril, agora, era acompanhado de calafrios.”

História da Laura

“Laura, estava realizada como mãe de uma linda bebê que nascera de parto normal há 1 semana. Ainda se adaptando a rotina com um recém-nascido em casa, estava apreensiva e muito dedicada em dar conta de toda a sua jornada materna. Sentia um misto de felicidade com privação de sono e o cansaço habitual para essa etapa da vida. Porém, com o passar dos dias, o seu cansaço era cada vez maior e frequente, sentia tontura ao se abaixar e notava um corrimento vaginal. Ela e seu marido consideravam essas alterações comuns no pós-parto. O tempo foi passando e o corrimento ficou com odor desagradável e Laura passou a sentir seu o coração bater muito acelerado durante todo o dia. Agora, todas essas alterações seu corpo também eram acompanhadas de uma forte dor abdominal.”

Essas histórias se entrelaçam nesse momento, quando as duas pacientes, ao procurarem suas obstetras, são orientadas a irem imediatamente para a emergência médica.

Marcela e Laura, embora estejam em períodos da maternidade distintos (uma na gestação e outra no pós-parto) apresentam sinais de alerta importantes que sugerem uma infecção grave, a Sepse Materna.

É sobre esse assunto, que merece toda atenção e cuidado, que vamos conversar agora. Precisamos saber que estamos falando sobre uma das principais causas de morte materna e neonatal no Brasil e no mundo e que acredite, são mortes preveníveis!

O tratamento da Sepse materna

A Organização Mundial de Saúde define essa doença como um mal funcionamento do organismo resultante de uma infecção durante a gravidez, parto, pós-parto ou pós-aborto. Quando a infecção não é identificada precocemente e tratada de forma correta, ela pode evoluir para a Sepse (popularmente conhecida como “infecção generalizada”) ou ainda para a sua forma mais grave, conhecida como Choque Séptico, o que eleva ainda mais a mortalidade da mãe e do bebê, podendo trazer consequências físicas irreversíveis e até mesmo a morte.

O tratamento da Sepse exige um ambiente de maior vigilância médica – o CTI – e a principal ferramenta de combate à infecção: o antibiótico. O tratamento com antibióticos deve ser iniciado o mais precoce possível, idealmente em até 1 hora após o médico ter feito o diagnóstico da Sepse, uma vez que a mortalidade da paciente aumenta em 7,6% a cada hora de atraso da medicação. Alarmante, não?

As infecções que podem desencadear a Sepse Materna ocorrem devido à causas diretas relacionadas à gestação – como infecção da ferida após cesareana, mastite, cistite, aborto infectado. Ou causas sem relação com esse período da saúde da mulher – tuberculose, pneumonia, gastroenterite e, além disso, infecção urinária, entre outras. É preciso destacar o fato de que as gestantes são mais vulneráveis à infecções e mais suscetíveis às complicações que as não grávidas, devido às alterações do sistema imunológico que ocorrem durante a gestação. Esse fato torna ainda mais importante a conscientização da Sepse e o seu reconhecimento precoce.

Voltando às pacientes…

Marcela recebeu o diagnóstico de infecção urinária, que foi agravada pelo acometimento dos rins – Sepse Urinária. Neste caso, temos que cuidar da mãe e do bebê simultaneamente e nossas decisões buscam o bem estar de ambos. Um desafio! No tratamento da Sepse, não é mandatório a interrupção da gestação para que ocorra a melhora da saúde da mãe. Podemos tratar a infecção mantendo o bebê na barriga, aguardando o tempo ideal para o nascimento. Porém, durante a internação no CTI, Marcela apresentou piora da infecção. Colocando em risco a vida dela e do bebê, o que, como resultado, nos fez indicar a antecipação do parto.

Laura recebeu o diagnóstico de infecção uterina grave – Sepse Puerperal. Nesse caso nossa preocupação era conseguir tratar a infecção materna. Sobretudo garantir a continuidade da produção do leite materno (lembram que temos uma linda e saudável bebê em casa para cuidarmos?) e não precisar retirar o útero como última alternativa ao tratamento da infecção. Uma força tarefa! E nós conseguimos.

Nesse momento Marcela, Laura e seus bebês estão saudáveis e em casa. Porém, guardam essa experiência de vida em seus corações e mentes para sempre.

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O alerta principal dessa conversa é para que as mulheres e suas “redes de apoio” (mães, companheiros, ajudantes, amigos…) estejam atentos aos sinais que possam sugerir uma infecção. Portanto, é fundamental não banalizarem os sinais importantes que o corpo nos dá. Sinais como febre, calafrios, batimento cardíaco acelerado, diarréia, vômitos, dor abdominal intensa, corrimento vaginal com odor desagradável, tosse, dificuldade respiratória, ardência ou dor ao urinar, redução da quantidade de urina, tontura ou sonolência.

E lembrem-se, a Sepse pode ser prevenida! Através de um ambiente higienizado, com saneamento básico, locais arejados, lavando-se as mãos ou usando álcool gel regularmente. E também:

  • mantendo a caderneta de vacinação atualizada (das crianças e dos adultos!);
  • não usando antibiótico sem prescrição médica;
  • e seguindo as orientações do seu médico.

Você precisa concordar comigo, pois isso não é uma tarefa impossível!

Mulheres e mães, escutem seu corpo, se percebam, ele dá os sinais mais precoces de que algo não anda bem. Não é o momento de sermos super-heroínas, mas sim responsáveis com a nossa saúde e do nosso bebê. Cada gestação acontece de forma única e merece toda atenção e carinho em sua condução.

Não ignorem os sinais de alerta. Estejam atentas. Peçam ajuda.

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