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A maternidade e o medo de errar

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Eu sempre fui uma pessoa perfeccionista. Desde que me conheço por gente, desde muito pequenininha, eu sempre queria fazer tudo certinho, tudo perfeitinho, tudo bonitinho. Sempre fui muito exigente comigo mesma e sempre tive pavor de errar. E isso, na verdade, me atrapalhou várias vezes na vida. Levei muito tempo para aprender a dirigir (começava, não ia muito bem, aí desistia), desisti de alguns sonhos (pintar, por exemplo) e acabei não arriscando algumas coisas importantes por medo de não darem certo (abrir um negócio próprio é uma delas).Bom, e agora me vejo diante do meu maior desafio, do meu mais significativo “projeto”, da coisa mais importante da minha vida: tenho um filho.

E como é que está sendo a minha vida tendo essas duas coisas juntas, meu perfeccionismo x a tarefa de criar um filho? Muitas vezes, nada bem. Muitas vezes, de pirar. Muitas vezes, me deixando insegura, muito insegura, até em pânico.

Sim, é natural que a gente, quando se torna mãe, queira acertar, queira fazer tudo perfeito, queira que nada saia errado. Duvido que tenha uma única mãe (as normais e equilibradas, pelo menos) que pense: ah, vou fazer de qualquer jeito, não estou nem aí, e seja o que Deus quiser. Tem até uma música que diz “Quando a gente ama, é claro que a gente cuida” e quando a gente cuida, é claro que a gente quer que saia tudo certo. Não tem muito jeito.

Eu, por exemplo, estou sempre me perguntando se o que eu estou fazendo está certo. Vivo na dúvida se não estou pecando por falta ou por excesso. Chega a ser uma coisa engraçada. Quer um exemplo? Num dia acho que exagerei, que fiquei muito tempo grudada no Léo, que não saí do seu lado, que deveria ser uma mãe mais tranquila e deixar meu pequeno mais livre, para ele também se tornar mais independente. No dia seguinte, faço exatamente a mesma coisa do dia anterior, mas fico achando que estou dando pouco de mim, que deveria brincar mais, interagir mais, ensinar mais. Vá entender uma coisa dessas!

Já faz um tempo que venho pensando sobre isso. Que tenho percebido que vivo me questionando se o que eu faço está certo ou não, se estou dando a melhor criação que poderia dar, se dou amor e carinho na medida certa ou se sufoco. Enfim, sempre na dúvida, e sempre com medo de errar. E como tenho percebido que isso é uma constante na minha vida, achei que também poderia ser na de várias mães e resolvi vir aqui, compartilhar esse sentimento até muitas vezes angustiante, para que, quem sabe, outras mães se identifiquem e passem a se sentir meio ETs com esses momentos de pseudo bipolaridade.

Acho que esse medo de errar na maternidade é bem natural, afinal, como eu disse no início desse post, a vontade de fazer tudo certo quando se trata da coisa mais importante das nossas vidas é algo normal, até saudável eu diria. Só que a gente tem que entender (e isso vale para mim também, ô se vale!) que é impossível fazermos tudo certo, é impossível termos controle de tudo (já falei sobre isso várias vezes aqui) e é impossível não errarmos nunca. Até porque o certo e o errado variam muito e, principalmente, quando esse certo e errado dizem respeito à maternidade.

Complementando isso, ainda tem uma outra questão. Há alguma semanas, fui em uma palestra com um educador, sobre o tema criação e educação de filhos, e ele fez um comentário muito interessante. Ele disse: “nada, nada, nada, absolutamente nada que vocês façam hoje irá garantir que vocês não terão problemas no futuro”. Ou seja, por mais que a gente tente fazer tudo certinho (dentro do que a gente considera o certo) nunca teremos certeza de que isso será garantia de um futuro bom para nós e nossos filhos. Isso porque, a vida deles não depende só do que vem de nós, mas do que eles são, do que eles fazem com o que damos, do que eles irão encontrar quando sairem mundo a fora e de mais um milhão de variáveis. Mais uma vez, nosso controle foi pro espaço.

Claro, sempre cabe a nós fazermos e darmos o nosso melhor, mas sem que isso vire um tormento em nossas vidas. Se errarmos um pouquinho aqui e um pouquinho ali, se errarmos sem intenção e tentando acertar, tudo bem, não é o fim do mundo. Eu, por exemplo, sofri muito, muito, muito por não ter conseguido amamentar da forma que gostaria e, na época, meu marido me ajudou demais, dizendo que eu não precisava me martirizar daquele jeito, pois o resultado final era uma junção de vários fatores, e não era porque eu não estava conseguindo amamentar por pelo menos seis meses que o Léo seria menos saudável ou mais infeliz. Nesse ponto as coisas poderiam não ter saído como o planejado, mas em tantos outros tudo daria super certo e aí, somando, subtraindo, dividindo e multiplicando, o resultado seria positivo.

Enfim, agora tentando fazer uma amarração final de todas essas ideais soltas: querer acertar é normal, faz parte, é super positivo. Só que esse querer acertar não pode se tornar um medo de errar. O errar também faz parte e vai fazer sempre. E temos que aceitar e não sofrer por isso. Temos sim, que aprender com os erros e tocar a vida adiante. E entender que quando se é mãe aí sim que o controle, aquele que achamos que irá garantir o sucesso das nossas ações, acaba de vez.

No fim, estamos sempre acertando muito mais que errando e é isso que importa. E não será um escorregãozinho aqui e outro ali que farão cair por terra tudo de bom que a gente está construindo. Uma criação com amor, muito amor, e com uma dose equilibrada de limite, faz milagres. É isso que temos que ter em mente sempre que o medo de errar voltar a angustiar a nossa alma.

Espero que essa auto-análise pública tenha sido útil para você. Pelo menos, para mim, algumas coisas ficaram mais claras e algumas culpas foram embora. :-)

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