Se tem uma situação que imagino ser difícil, é enfrentar um divórcio. Quando o casal tem filhos então… Primeiro porque não é uma decisão fácil de se tomar. E quando temos filhos, precisamos pensar neles também, pois uma separação afeta a família toda. Mas agora uma coisa que não consigo imaginar é um divórcio no puerpério.
Aconteceu com a Tarsila, leitora do blog e de quem eu virei fã. Mulher de coragem! A Tarsila sofreu um divórcio quando seu filho tinha 8 meses de idade. Ela entrou em contato comigo e quando tive conhecimento da sua história fiquei de queixo caído. Abaixo, ela abre seu coração compartilhando a sua história e dá algumas dicas para quem passa ou passou por algo semelhante.
A vida segue após o divórcio e pode te surpreender
Primeiro quero deixar registrado aqui a minha ALEGRIA ao escrever para esse blog tão bacana idealizado por uma mulher igualmente bacanuda como a Shirley. Sou leitora dela há anos! E estou amando especialmente seu mais recente projeto que foca mais na mulher, pois como ela mesmo diz “a maternidade me completa, mas não me resume.” Um dia, dei conta de que essa frase não poderia me definir melhor. Toda mãe terá que correr atrás da versão mulher um dia. Porém, a mãe que se divorcia é forçada a isso e tem que se voltar a si mesma de forma até emergencial como uma forma de sobrevivência.
Me chamo Tarsila Cimino, sou mãe do Antonio (um menino lindo de 3 anos) e sou divorciada. Fui casada por quase 9 anos e Tom (Antonio) é um filho que foi muito querido e planejado. Quando Tom tinha apenas 8 meses, me divorciei. Não engravidei esperando isso. Simplesmente aconteceu, como acontece acidente de avião. Como os americanos dizem: “Shit happens!” rs
Se o puerpério é intenso e dolorido para aquela mulher que sim morre para dar lugar a nova que ali nasce – a mãe, imaginem o puerpério seguido de uma separação. Eu me sentia como os lutadores de UFC que treinaram muito, performaram bem nas primeiras lutas e quando estavam esperançosos que o pior tinha passado, tomam um golpe de esquerda fatal e a luta acaba ali em segundos. Fui à lona literalmente pela primeira vez na minha vida.
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Os primeiros meses eu me sentia atordoada, perdida, com muito medo. A rejeição em si já é muito dolorida e difícil de lidar; viver isso com um bebê no colo é pesadelo hardcore. Eu me questionava muito… Por quê isso está acontecendo comigo? Por quê estou vivendo isso agora com esse filho tão esperado… esperei tanto por esse momento na minha vida, por quê meu Deus? Os medos eram muitos e enormes. Eu trabalhava meio período na época. Não me bancaria sozinha… divórcios normalmente vem com preocupações financeiras, especialmente para as mulheres que na maioria das vezes ganham menos que os ex-maridos.
Teria que mudar de apartamento. Arrumar um outro trabalho que implicaria ficar longe do Tom o dia todo. Um turbilhão de sentimentos e dores tomou conta de meu corpo e mente por muito tempo. Lembro até hoje do dia que voltei da vivência que fiz na escola que hoje trabalho.
Voltei apaixonada pela escola e feliz por ter passado na seleção. No entanto, só conseguia chorar contando à minha mãe, já imaginando a rotina longe do meu filho. Minhas manhãs de passeio com ele, os horários de almoço juntos, as fases preciosas que passam tão rápido acabariam sim naquela contratação. Minha mãe me disse: “Calma filha. Tudo se ajeita. Você ficará bem”. ( Ela estava certa felizmente; o trabalho foi FUNDAMENTAL na minha recuperação e AMO trabalhar e produzir, mesmo sentindo muita falta do meu pequeno.)
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Paralelamente, o luto do sonho também me derrubou. Sempre sonhei com a família! Admiro muito mulheres que se jogam em produções independentes (as acho corajosas, modernas, auto suficientes). Nunca fui assim. Queria viver o comercial da margarina mesmo. Papai, mamãe e bebê como nos desenhos das crianças pendurados nas geladeiras. Pois é: fácil rs! Nem deu tempo de colocar nada na geladeira rs! De uma hora para outra, meu sonho e todos os outros relacionados ao “meu futuro” desapareceram enquanto um bebê precisava de mim ativa e sorridente.
Hoje nem sei explicar a vocês como dei conta de tudo. Só sei que dei e prometi a mim mesma que o estrago pararia em mim e que conseguiria “blindar” meu filho. Chorei muito nas madrugadas longe dele e mantive contato frequente dele com o pai. Agradeço por tudo ter acontecido com ele tão pequeno, pois ele não terá memórias relacionadas à família, muito menos a forma como tudo aconteceu.
Hoje quando olho para trás, associo o divórcio à palavra quebra. Você sofre uma ruptura geral, uma “lobotomia emocional”, eu diria. Divórcio vem com a quebra de um sonho, de uma dinâmica de vida já estabelecida. É quebra de confiança, é quebra da inocência juvenil. Quebram-se amizades e relações com pessoas que também optarão por sumir junto do seu passado. Portanto, é quebra financeira, é quebra de projetos.
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Quebra-se a saúde física e mental. É quebra pesada do teu coração quando você tiver que se separar do seu filho ou filha pelas primeiras vezes. É quebra da autoestima, pois muitas vezes nos colocamos nesse lugar (autoestima zero) dependendo de como o fim se deu. E por fim, a quebra de esperança em dias melhores e no amor. Todas essas quebras DOEM absurdamente e levará algum tempo para todas essas cicatrizes se fecharem de fato.Vai passar, te garanto!
O mais importante, meninas, vem agora, atenção! Graças a esse processo dolorido e intenso, cheio de rupturas, você se transformará e se tornará muito MAIOR que antes. Essa mudança vem independe da sua vontade. Às vezes, não me reconheço, tamanha mudança que sofri. Hoje sou mais feliz (mesmo enfrentando muitos perrengues em virtude da minha nova condição), mais real, mais segura, mais preparada para a vida, mais forte para as batalhas… Sempre falo isso no meu blog: “Não interessa o quê aconteceu com você e sim o que você fez com aquilo que aconteceu com você”.
Sofra tudo que você pode, se olhe no espelho com coragem e vire a página. Libere-se de qualquer culpa, entenda que as coisas não dependem só de você e que tem coisas na vida que devem ser vividas e não compreendidas. O waze do cara lá de cima pode te dar uma rota mais longa e sinuosa, mas confie! Pois ali no final, vai ter algo muito bom que te fará entender todo o longo e sofrido caminho que você percorreu.
Hoje, dois anos depois…
Estou namorando uma cara nota mil, feliz e, além disso, mais produtiva do que nunca. Trabalho muito como professora em uma escola sensacional, idealizei meu blog (Meu Tom Maternal) para ajudar outras pessoas que estejam passando por isso, conheci e conheço pessoas novas todo tempo nessa nova área. Reconectei-me com amigos, família, comigo mesma. Reencontrei-me no meio do caos, tirei meus pés da lama movediça e para lá prometi jamais voltar.
Seguem então alguns conselhos gerais e práticos que julgo ESSENCIAIS:
- Ser divorciada com filhos implica em MUITO cansaço. Por isso, tenha alguém ou uma rede de apoio para te ajudar. Tenha alguém se você puder pagar, peça ajuda das famílias, amigos. Cancele compromissos. Talvez você suma e perca alguns eventos simplesmente para DORMIR. Se a pessoa for sua amiga, entenderá. Se não for, livre-se dela também junto de todo resto que ficou para trás. Viva o mais leve possível, pois sua carga já será pesada. Durma sempre que puder e aceite que você não vai dar conta de tudo.
- Preserve e incentive a relação de seus filhos com seu ex ou sua ex. Separe as relações. Maternidade e paternidade são para sempre e são fundamentais em nossas vidas. E sim, você escolheu seu ex ou sua ex e decidiu também ter um filho com ele ou ela, portanto tarde demais! Arrume o melhor jeito de conviver com isso. Faça sua parte como ser humano civilizado que devemos ser. O mundo precisa de mais civilidade e isso começa em casa. Um calendário bem esquematizado te poupará de contatos frequentes e isso ajuda muito a aliviar o stress e o sofrimento dos primeiros meses.
- Resgate hobbies, amigos e adquira novos também. Se inscreva em cursos novos, leia. Curta Netflix e beba vinhos. Fiz isso vários sábados enquanto Tom dormia com o pai e eu não tinha vontade nenhuma de sair. E durma sempre que puder!
Nasce até uma vida melhor
- Namore quando se sentir pronta/o para isso. Isso faz um bem enorme e não é só para pele! Enfim, existem pessoas super bacanas por aí que também querem recomeçar. Pense que você está tendo uma grande oportunidade de apertar o reset com um cartão de extra chance sem anuidade rs! Ah, e se não quiser namorar e só curtir, curta! Livre-se de culpas. Ela fica bem mais pesada depois de nos tornarmos mãe. Não precisamos dela.
- Mantenha, valorize e agradeça aqueles que estiveram com você nessa longa caminhada. Eu só estou de pé pois tive família, terapeuta e alguns amigos que me foram uma rede de proteção, acolhimento e amor. É na dor que você vai descobrir quem te ama e quem realmente torce por você. Descobrirá outras coisas também não muito legais rs! Vai doer, mas também passa!
Enfim…
De resto, depois de chorar, brigar, sofrer… acabe com o luto, recolha seus cacos e recomece. Recomece por você e pelos seus filhos. Filho saudável é filho de pais felizes. Enfim, não perca jamais sua capacidade de amar. O fim é sempre o começo de uma nova história e você é o autor
dela. Ah, e durma sempre que puder rs!
Um beijo a vocês,
Tarsila Cimino
Idealizadora do blog Meu Tom Maternal
Nota para casadas e casados
Trabalhem o casamento de vocês. Eu não consigo entender a emergência que muitas pessoas têm de serem felizes somente quando elas conhecem uma nova pessoa. Largam tudo, pois chegou a hora de ser feliz!! Essa emergência tem que acontecer todo dia na sua vida e isso inclui aquela pessoa com quem você está e que muitas vezes você escolheu para ter filhos. A falta de comunicação e sinceridade também é uma “traição” imensa; não durma do lado da pessoa que você “divide” a vida sem ser honesto/honesta, sem dividir o quanto aquilo tudo já não está fazendo sentido para você. Ninguém é obrigado a ficar com ninguém, felizmente. Traições não são só sexuais; falta de lealdade também é jogo baixo. Portanto, maturidade é item essencial para a manutenção de um casamento feliz.
Nota para separados e separadas
Por mais sofrido que tenha sido, acredite que tudo passa. Muitas vezes você descobrirá lá na frente que estava tudo errado sim, que você não era de fato feliz e que agora você pode recomeçar baseado em outras verdades e aspirações. Nós nos acostumamos nas relações e muitas vezes nem enxergamos o que está de errado especialmente se você estiver focado/a em ficar com aquela pessoa. O fim, o desprendimento e a aceitação em relação a isso podem te fazer muito bem. Não tente entender aquilo que não depende só de você. Cuide da autoestima que normalmente desaparece e acredite no teu recomeço. Não se feche nem se amargure. Não perca sua capacidade de amar. Enfim, felizmente somos capazes de nos reinventar e criar caminhos novos e felizes.
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Assista também, no Canal MdM, esse vídeo sobre o segundo puerpério: